sexta-feira, fevereiro 27, 2015

Speaker

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Uma das coisas que mais me impressiona ver, é uma pessoa inteligente e criativa a tentar expressar um pensamento, uma ideia ou uma opinião qualquer e não conseguir fazê-lo. Não se tratará, a maior parte das vezes, de um problema relacionado com insuficiência  vocabular, porque as palavras podem ser substituídas por outras por aproximação e com mais uma volta no argumento, mas sim, e sobretudo, pela limitação evidenciada na construção de unidades lógicas e significativas do discurso - é aquele embaraço e ansiedade que se vai instalando e tolhendo-nos à medida que vamos querendo expor o assunto e não conseguimos fazê-lo, porque nos falta a cada momento a ligação e as pontes para o núcleo significativo do conceito ou da ideia que estamos a tentar desenvolver, ficando depois a pairar na nossa cabeça uma névoa muito confusa e desalentadora. É a morte do speaker. Depois, como já não conseguimos alinhar ideias, porque o pensamento já está disperso, rematamos a conversa com dois ou três conceitos soltos e pronto, que alívio, acabou a tortura.
Acontece a muito boa gente, senão mesmo à maioria ( no lote dos quais eu me incluo ), exibir um enorme défice comunicacional que é consequência natural de uma também deficiente forma de pensar ( quem não pensa bem, não se exprime bem). Os portugueses têm sérios problemas na elaboração do raciocínio. Não sabemos pensar, somos mais intuitivos ( desenrascados ).Talvez porque o ensino da língua Pátria não tivesse sido o mais apropriado, ou porque o histórico obscurantismo cultural e medo atávico nos tivesse remetido para dentro, com custos comunicacionais evidentes, para além, claro está, das consequentes manifestações de insegurança e acanhamento que só reforçam esta evidente inabilidade.
De facto, a faculdade que associamos aos oradores, aos palavrosos, no fundo àquelas pessoas que são capazes de pegar num assunto avulso ou em qualquer facto e desembrulhá-lo  de forma perfeitamente clara e entendível, em toda a sua extensão, é, em parte, independente do grau de instrução. Na realidade, todos nós conhecemos pessoas que revelam essa faculdade "inata" de conseguir relatar, quanto baste, a realidade e o mundo. São pessoas que apresentam um raciocínio muito vivo, uma capacidade de exposição nada negligenciável e medianamente comunicável, apesar do atropelo que muitas vezes patenteiam no uso das palavras e dos sintagmas, talvez por inadequada instrução. Mas se a esta graça, ou faculdade, juntarmos ainda a formação académica, para além da inevitável inteligência, sensibilidade, sentido de humor e originalidade, tal como manifestam os outros, então teremos naturalmente a assumpção de grandes comunicadores, gente que não terá, seja em que área for, dificuldade alguma em se afirmar e, eventualmente, em notabilizar-se. Todavia, a grande questão que se coloca é a seguinte: serão estas pessoas sages ou bons contadores de histórias? Terão elas algum tipo de conhecimento mais profundo, mais sintonizado com as grandes questões relacionadas com a realidade, uma realidade que se esconde para lá de todos os véus, e com o significado da própria vida ( ou a falta dele )  ? Obviamente que a grande maioria não tem essa qualidade e é pena, porque assim perder-se-ão, por ventura, bons pedagogos, homens que poderiam  orientar os outros elevando-os para além das estrelas . A este propósito, por exemplo, no plano da espuma dos dias, é-me de algum modo indiferente e até por vezes desconfortável suportar um discurso, um livro ou um filme que, por mais escorreito e perfeito que seja, não mostre alguma sageza. No caso em apreço da oralidade, de uma exposição ou de uma comunicação, não consigo suportar o incómodo se este não trouxer consigo algo de estimulante, alguma novidade no âmbito científico ou mostrar alguma profundidade. Ressalvo apenas o caso de certo tipo de informação para ser consumida no imediato, decorrente de alguma imperiosa inevitabilidade ou então a estimulante e amena cavaqueira para descontrair. Ir além disso, não consigo, é entediante, uma perda de tempo, prefiro os lacónicos. 

terça-feira, fevereiro 24, 2015

A inevitabilidade

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Somos obrigados a renovar todos os dias os nossos votos de acreditar que vale a pena continuar, como se o caminho que estamos a trilhar não nos levasse impiedosamente para o matadouro.

sábado, fevereiro 21, 2015

Germanófilos

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Schauble:"  Portugal é a prova que a austeridade funciona".
Maria Luís, em Berlim:" Portugal soube mostrar aos parceiros europeus que era credível ".

segunda-feira, fevereiro 16, 2015

Dr. Strangelove

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O Dr. Strangelove ( o senhor Alemanha ) disse hoje, por outras palavras, que povos subdesenvolvidos como a Grécia  não podem tomar conta dos seus destinos, porque são irresponsáveis. Eu também acho. Mas não é da Grécia, a Pátria do pensamento europeu, com certeza que ele estava a falar. Nem eu. A História está aí para nos fazer lembrar como um povo bárbaro e racista como o alemão deixado em roda livre pode ser tão tragicamente destrutivo. Tanta sapiência, tanta arte e filosofia e depois aquilo, o Holocausto - e depois os gregos é que são irresponsáveis. De facto, a Alemanha ainda não conseguiu digerir a ofensa de ter sido derrotada nas duas grandes guerras por países que ela considera " menores". A ferida continua aberta e o trauma difícil de ser ultrapassado. Estava agora a preparar-se novamente para dominar a Europa com o concurso subserviente de alguns governos lacaios, mas eis que de repente acontece o Siriza. Vamos ver...

sexta-feira, fevereiro 13, 2015

Ελλάδα

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Já foi encontrada a Fórmula da Grécia poder pagar a dívida a Alemanha, tal como aos demais  países que de forma canalha publicitaram os seus créditos sobre aquele Estado membro. 
É que a Grécia pode estar de facto à beira da bancarrota, mas ainda não esgotou todos os seus argumentos, nomeadamente aquele que traria grandes engulhos a Washington se a Grécia saísse da Nato. Não é por acaso que Obama fez aquelas declarações tão encorajadoras sobre este país.

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

O animal de gravata

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Aqui há uma , duas semanas atrás, no périplo que Tsipras ensaiou por algumas capitais europeias para auscultar a  opinião e a sensibilidade política dos seus congéneres sobre as ideias que ele tem para a Europa, o governante grego foi obsequiado em Itália com uma gravata por Renzi. O gesto, que por defeito visava chamar a atenção de Tsipras para a necessidade da Grécia permanecer na Zona Euro, e daí a gravata significar simbólica e persuasivamente o cartão de ingresso a mais um membro do clube, teve, no entanto, a virtude de mostrar quão ridículo  é o uso que as pessoas fazem de certos adereços, tal como a ritualística a ela associada.  Não por acaso alguém dizia ironicamente que o homem diferenciava-se dos outros animais ( também ) pelo chamado "gesto inútil ", caindo a gravata justamente nessa categoria. 

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

O negociador da morte

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Não me deixe morrer, por favor! Eu quero ainda viver!

A noite escura desceu sobre Portugal, estamos a ser governados por um bando de loucos. Se os doentes condenados por esta doença andam apavoradas com a eventualidade de terem de enfrentar esse grande desconhecido, que é a morte, para além de todo o sofrimento que isso implica, ele, com a frieza de um psicopata, parece não mostrar piedade por ninguém, preferindo antes negociar a vida dos outros como quem negoceia chouriços.

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Nein

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Se na Ásia, nomeadamente na China e na Índia, e em muitos outros países da América latina e da Europa de leste  o Capitalismo financeiro instalou-se e domina o mundo, com o cortejo de miséria que provoca, como foi possível, dada a magnitude atingida, isto ter acontecido na Europa, uma Europa Pátria das democracias, letrada e reivindicativa? Talvez porque, entre outras razões, como a traição dos partidos sociais democratas e democratas cristãos aos seus princípios fundadores, a Alemanha continue a ter sonhos megalómanos, não conseguindo ver-se de outra maneira senão a dominar a Europa, quiçá, para depois novamente ensandecida vir a dominar o mundo.

Nota :
Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam, organização não-governamental britânica, revelou este ano que a riqueza de 1% por cento da população mundial é maior que a dos restantes 99%.


Vamos brincar à caridadezinha

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Em entrevista publicada ontem no jornal " I ", o presidente da União das Misericórdias, Manuel Lemos, disse, com todo o despudor que caracteriza um cínico, que em Portugal só passava fome quem quer, querendo com isso insinuar, mau grado o contexto da sopa dos pobres, que os portugueses são uns madraços que não querem trabalhar. Haja respeito. 

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Um conto infantil de terror

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As medidas draconianas de austeridade impostas pela Troika e saudadas efusivamente por Passos Coelho tiveram um impacto dramático na vida dos portugueses, especialmente  no bem-estar dos mais novos ao nível da saúde, da educação e dos apoios sociais. Como consequência directa daquelas medidas, Portugal é hoje um dos países mais pobres da Europa, com milhões de pobres, uma taxa de desemprego assustadora e sem esperança no futuro. Passos Coelho hipotecou a vida e o futuro de milhões de crianças e jovens como se fosse a coisa mais banal deste mundo, e ainda tem a desfaçatez e a arrogância de dizer que fez tudo a bem do povo. Mas o mais alarmante ainda do resultado destas políticas  é a pobreza infantil. Decorrente do desemprego massivo, dos ordenados de miséria de seus pais e dos cortes efectuados nas prestações sociais, como o subsídio de desemprego, o rendimento social de inserção, o abono de família e outras prestações sociais, milhões de crianças ficaram também na miséria, e muitas dezenas de milhares delas,  se não mesmo centenas, a dependerem da ajuda alimentar para escaparem  ao flagelo da fome. É uma vergonha, um autêntico conto infantil de terror.