domingo, agosto 09, 2015

Faith

CONNECT !!!

  1. Podemos compreender o mundo sem a intervenção da crença?

    Parece-me que na história do pensamento humano quem melhor exprimiu esta ideia foi Descartes : Se penso, logo existo. Ou seja, a crença de que ele existia por ter essa faculdade miraculosa de pensar. No fundo, aquele sentimento básico e fundamental do sobressalto do ser, de ter consciência de si e do mundo que o rodeia, em última análise, de perceber que é alguma coisa, uma coisa que sente e que sabe que existe. Pelo menos, como pensamento.
    Se penso , logo existo, se penso, logo sou. Mas se este sentimento, esta sensação ou consciência de ser e de existir não tiver, afinal, nenhuma tradução real ? Se a mente for apenas um sonho insubstancial, um programa virtual, uma trágica ilusão ( mas mesmo assim, algo de significativo ), como aponta o Solipsismo ?
    Na verdade, existe uma crença fundamental antes de toda a crença, que é a crença na possibilidade da existência da própria crença - Eu acredito porque sou impelido naturalmente a acreditar, eu acredito que sou e que existo, eu acredito que acredito.
    A sublime explosão de subjectividade que determina o nascimento da consciência ( quando o ser estala com o pensar ) e que o axioma cartesiano reflecte tão bem, é, na realidade, a génese de toda a crença, incluíndo a científica .
    Está bem, eu sei que se bater com força com a cabeça contra a parede, de imediato vou saber com quantos paus se faz uma canoa. Todavia, a dor lancinante que obviamente iria sentir depois desta estúpida provação teria apenas uma variável, é que a ilusão, deste modo, ainda é mais perfeita. 

    (...) No princípio, Deus criou a terra e observou-a com atenção na Sua solidão cósmica.
    E Deus disse: façamos seres vivos com o barro, para o barro ver o que Nós fizemos.
    E Deus criou todos os seres vivos que se movem e um deles foi o homem. Só com o homem o barro podia falar.
    Deus inclinou-se para o barro, enquanto o homem olhou à sua volta e falou." Qual é o propósito de tudo isto", perguntou. "Tudo tem de ter um propósito?", perguntou Deus.
    " claro, disse o homem."
    "Então, encarrego-te de encontrares um para tudo isto", disse Deus.
    E foi-se embora.(...)
    Kurt Vonnegut