quinta-feira, setembro 11, 2014

Tótó Zé, Kalimero: " Foi aquele menino, senhora professora ! "

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Se dúvidas existissem sobre a "viragem" à direita que a actual direcção do Partido Socialista fez nestes últimos três anos, não apenas pela leveza ideológica constatada , muito embora alguns arremedos florentinos ensaiados no parlamento para calar a crítica interna,  e pela oposição fruste que foi fazendo durante todo este tempo ao governo,  bastava obviamente ver os apoios que ela recebeu desde a primeira hora e os que continua  a receber, nomeadamente hoje quando tem de  disputar  a sua legitimidade nas primárias contra Costa, que a desafiou, enfim, a legitimidade de ir a votos nas legislativas e de Seguro tornar-se , eventualmente, Primeiro Ministro.
Por que razão o velho e histórico Partido Socialista aparece nestas primárias ao lado de Costa? E por que razão a ala mais à direita do Partido Socialista, com o seu núcleo duro muito próximo do Partido Social democrata, apoia Seguro? Será apenas porque sim, ou será porque ideologicamente existem diferenças?
Podemos alegar, naturalmente, que os programas e propostas dos dois candidatos, fundamentalmente, não divergem muito. Podemos até crer que um Costa de Hollande poderá ser um fenómeno perfeitamente possível. Mas não querendo parecer ingénuo, entendo, no entanto,  que a razão atinente para Costa ser diferente, para além das provas já dadas no exercício de diversos cargos na gestão da coisa Pública, na capacidade de liderança e na aptidão para mobilizar vontades, se encontra, na verdade, na sua matriz ideológica. Creio ser Costa um prudente socialista da ala esquerda do partido.
Quanto a Seguro, bom, quanto a Seguro, depois destes dois debates a que assisti ,  acabei por concluir que este senhor é possuidor de uma falta de carácter incrível e padece de um esdrúxulo e patológico infantilismo. Na realidade, ele foi muito mais acutilante com o camarada de partido, uma pessoa que fez com ele o mesmo trajecto político, iniciado na  juventude socialista,  do que alguma vez o foi com o líder do governo ou com a maioria de direita que o invectiva e o desrespeita no Parlamento. A breve trecho, no primeiro embate, ainda julguei que Costa, depois daquele obsceno massacre sobre a sua condição de traidor à Pátria, acabasse mesmo por dar um murro na mesa e fizesse Seguro engolir as palavras denunciando-o pelo tratamento igual que ele infligiu a Sócrates quando este era Primeiro Ministro. Mas, não, Costa tinha delineado uma estratégia de contenção,  empenhado  sobretudo em manter uma postura muito british, para mostrar à opinião pública que um político e, sobretudo, um governante, deve ter uma serena mas muito activa atitude nos momentos mais difíceis da vida de uma Nação . E não saiu daquele registo, para além de ter mostrado à saciedade que foi mal preparado para o debate e a engasgar-se a pretexto de algumas posições contraditórias que tomou no passado. Com esta atitude, Costa cedeu em toda a linha a pro-actividade do debate ao Kalimero Seguro que, a breve trecho, chegou mesmo a revelar algum triunfalismo no rosto. No debate de ontem, no entanto, António Costa já foi mais assertivo e preparado, com as baterias todas apontadas ao "coração" do adversário, anulando-o com competência no esforço que este ia fazendo para o descredibilizar, levando-o mesmo, em alguns momentos da contenda, a um indisfarçável estado de nervosismo. 
Seguro é, por todas as razões , o seguro da direita, se vier a ganhar as primárias e a concorrer às legislativas pelo P.S. Não é por acaso que a maioria dos comentadores avençados de direita, que fizeram o balanço dos dois debates nos canais televisivos, continuam a dar a vitória a Seguro, vaticinando-lhe um bom resultado nas primárias, ao mesmo tempo que desqualificam impiedosamente as prestações de Costa . Nós percebemos.