Obsolescência

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Esperava poder ser eu a dominar o neocórtex dos circunstantes com as minhas certezas e a minha confiança inabalável, mas, subitamente, vi-me enredado no meio de um vórtice de metáforas e alegorias hi-tech, academismos futuristas e sintaxe neo-semântica que me deixou completamente atordoado. Afinal, aquele pacífico e antecipadamente dominado debate tinha-se tornado numa espécie de pesadelo perceptivo : não conseguia entender nada daqueles planos picados sobre a realidade , nem tão-pouco dos loopings epistemológicos que evoluiam à minha frente. Um Mundo estranho e praticamente desconhecido redemoinhava agora sobre a minha cabeça ; a minha faculdade de perceber, por muito que se esforçasse, não conseguia atingir aquela magistral arte de significar. Desisti. Já Cansado e penitente , com a dignidade "intelectual" a arrastar pelo chão, a única coisa que me restava para poder sair dali ainda com alguma sanidade mental, era poder acabar de vez com aquela aventura cruciante. Sentia-me pequeno, muito pequeno, a olhar atónito para a claridade daquelas inteligências desinteressadas na tentativa vã , por uma única vez que fosse, de conseguir descodificar um real que se projectava através de uma bateria ininterrupta de compressores algorítmos. Afinal, os circunstantes, apesar de ocuparem a mesma dimensão espacio-temporal que eu, não eram meus contemporâneos mas sim habitantes de um outro lugar, um lugar que se pressentia ser já de um futuro bem distante. Ao contrário, e confirmando a irredutível evidência, eu era apenas mais uma excrescência anacrónica, uma obsoleta e necrológica figura do passado.