terça-feira, janeiro 22, 2013

Homeostase

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Um organismo vivo é um repositório de processos dinâmicos recorrentes que sofre transformações para manter o seu equilíbrio vital. Esta sequência de ciclos intermináveis de carência e reposição, registados e sentidos a cada instante pelos seres vivos, apenas se torna possível porque, paradoxalmente, reside nele uma homeostasia de base fundacional que provê e protege-o da ruína e desintegração.  Protege-o não só do tecido físico de que é composto como também da desestruturação mental que assina a vida do espírito. Este paleoregulador, este equilíbrio emergente que visa expurgar a carne e o espírito da desordem anunciada pelo princípio da entropia, designa-se por neguentropia ou homeostase.
Como exemplo desta magnífica aptidão do organismo para se autoregular, pode-se mencionar no plano imaterial o trauma do sofrimento dos seres sencientes. Quando um ser senciente se interroga sobre o sentido e o significado de tudo isto descobre, inevitavelmente, os horrores do sofrimento e da morte. Para ultrapassar este trauma, este estremeção ontológico que tem tradução no binómio carência-reposição, o ser senciente vai procurar o equilíbrio e a harmonia nos diferentes paraísos perdidos, nas promessas e na esperança, na libertação e na salvação dos mitos e fantasias que ele próprio engendrou - não nos podemos esquecer que na estrutura das necessidades básicas humanas, aquelas que são classificadas como secundárias ( as principais seriam o acto de beber, de comer, a segurança, etc. ) , como, por exemplo, a cultura, e nela o conhecimento e o saber, o sentido do infinito e a transcendência,  nasceram exactamente deste propósito inicial homeostático regulador. O homem não suporta o sofrimento, nem um ligeiro desconforto sequer, sem que de imediato não arranje um antídoto reparador.
Na realidade, não temos nenhuma prova de que sejamos inteiramente livres, que as nossas escolhas não sejam pré-fabricadas, e que muito provavelmente somos apenas e tão-só epifenómenos. De facto, dos seres vivos mais rudimentares, como a amiba, até aos crâneos mais sofisticados da alta subjectividade, não passamos, afinal, de mera insignificãncia, de  autómatos inconscientes, manipulados por forças desconhecidas, que no levam a acreditar  que somos donos e senhores do nosso devir, com a sensação de livre-arbítrio. Somos, em última análise, um tremendo erro de " casting", o resultado dos ditames do férreo determinismo .