quinta-feira, março 06, 2014

Simulacro

CONNECT !!!
INTERNET EXPLORER

Quando tudo parece transcorrer no melhor dos mundos, de repente ocorre o inominável:  o nascimento - o trauma arquétipo do parto ( disse alguém ). Para voltar novamente a esse estado de felicidade absoluta, ao paraíso perdido, o homem precisa de passar por outro trauma aterrador: o trauma da morte. Depois disso , o sofrimento cessa ( La Palisse não poderia dizer melhor ).
Mas ao contrário, há quem alimente a esperança louca de mudar de canal quando morre. A imaginação continuaria a produzir imagens animadas no velho ecrã, como sempre o fez.
E, na verdade , como há dias disse, o que há de mais subversivo nesta espécie de simulacro que se autoproclama de "ser humano" é a sua espantosa e despudorada habilidade para promulgar a sua própria existência. E a sua arrogância vai tão longe quanto o facto de inventar uma realidade que ele sente que o cerca e nela perceber padrões e regularidades que, afinal, são padrões e regularidades de coisa nenhuma. Enfim, de inventar uma memória cujo único fito é o de apenas autenticá-lo, de construir um eu para que o plano seja perfeito. Ou seja, esta máquina virtual que julga produzir e instaurar sentido, ancorada, como se percebe, numa narrativa de devir imaginário, acaba depois por rematar todo este rocambolesco cambalacho ontológico com uma projecção final, da ordem do sagrado e por isso transcendental, para sua eterna glória e salvação.

Entretanto, o fenómeno que é a apoptose, vai trilhando o seu caminho, quebrando as pontas divinas da existência, tal como ordena o programa criador, até culminar na derradeira etapa cuja ilustração mais benigna é a da cama do entubado.