segunda-feira, novembro 14, 2011

O absurdo da existência humana

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Hiper-realidade

- Pai, porque me abandonaste!?...
- Pai, porque me fizeste isto? "Eu" estava " lá " tão bem. Não era nada. Não era, pura e simplesmente. Não vivia, é certo, mas também não sofria. Não viria a sofrer . Não morreria.
- Pai , p
orque me mataste
, porque me obrigaste a nascer para depois morrer ?
- Pai, "eu" estava " lá " tão bem...

Quantas e quantas vezes somos despachados para a câmara da tortura porque a culpa e os remorsos nos dilaceram a alma. Uma dor que não acalma e que não tem sossego, um castigo que não admite perdão nem redenção. Até que ponto o ser senciente que somos experimenta a náusea do desespero e a impotência quando por lucidez ousamos vislumbrar ao longe a óbvia agonia que um dia ditará a sorte dos nossos filhos ? Como foi possível indultarem os pais deste Mundo depois de eles terem cometido o crime mais hediondo que existe à face da Terra: o infanticídio consentido. Não saberiam eles que por cada baboso e egoísta acto de nascimento se estava a praticar um acto de verdadeira barbárie ? Como é que tiveram a coragem de nem pensarem por um instante na tragédia que se iria abater sobre as suas crianças, do sofrimento atroz porque iriam passar e do pânico que sentiriam quando desgraçadamente estiverem próximos da desintegração final? Não, era tudo muito bonitinho e encantador, azul ou rosa , conforme a preferência : vestidinhos e quartinhos, planos e carreiras , e tudo muito bem destinado para nossa eterna glória e egoísta satisfação ( " vejam só, este é o meu filho varão!" ). Mas então, e elas, as vítimas, o que lhes poderá dar guarida e consolo no momento da vil e trágica clarividência ? Uns salpicos de água-benta ou o aconchego de um livro de auto-ajuda ? Uma mística e resignante proposta kármica ou a sugestão sempre apelativa de uma carta de alforria enviada pela mais esotérica manifestação da Cosmologia Quântica ? Não, nada poderá aplacar a ira dos deuses que clamam por sacrifício, nada nem ninguém poderá valer-lhes. Apenas a capacidade que cada um revelar, interiormente, para resistir à desistência.
Creio ter sido Saramago que disse um dia que a morte era mais ou menos assim: " Ele estava aqui connosco e a partir de agora nunca mais estará ".