sexta-feira, junho 29, 2012

Sul

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Dentro de mim faz sul... praticamente todo o ano. Mas eu vivo a norte, que é terra de trabalho e de sofrimento, terra de angústias e de depressões onde é quase sempre noite e chove desapiedadamente. E quando a luz se digna a aparecer, normalmente é crua e fria como o musgo que sufoca as pedras das fragas.
Dentro de mim faz sul com tal arrebatamento, que muitas vezes me interrogo se a melanina não se equivocou o suficiente quando preferiu alhear-se da minha epiderme. Dizem os homens que cada um deve procurar infatigavelmente a paisagem que o viu nascer , pois só assim poderá encontrar a tranquilidade e o sentido para a sua vida , mas eu não gosto da que me coube em sorte, não consigo suportar os dias tristes deste Inverno permanente que se instalou na minha alma. Eu adoro o sol e o mar, dos dias ensolarados e quentes de Verão, com a sombra fresca para retemperar; gosto dos aromas maduros dos frutos no ar e da sardinha assada no prato ainda a crepitar. Gosto com paixão dos dias que passo na praia a mandriar e do cheiro a maresia que vem do mar; gosto também de sentir o roçagar da areia no corpo cansado de tanto se zangar e de sentir a salmoura atlântica a baptizar a pele crestada da minha tez. E, por fim , já com o espírito apaziguado, gosto de sentir o arrepio de frio que vem com a bruma do mar - à noite, a lua cheia "árabe" para namorar .
Não é toleima ou falha de atitude, mas amo o sul com a doidice imberbe de quem sente profundamente a matriz geradora do seu ser, de ter sido ali que vim ao mundo, não obstante o erro cartográfico registado na cédula de nascimento, pois só nesse hemisfério, ronceiro e bonançoso, eu consigo encontrar a harmonia e o discernimento . Faz-me bem o Sul.