quinta-feira, julho 26, 2012

O desfavor humano

CONNECT !!!
INTERNET EXPLORER
A notícia era esta:
" Fabricante do iPhone quer substituir trabalhadores por robôs.
A Foxconn, a fabricante do iPhone e do iPad, prevê “contratar” um milhão de robôs para as suas unidades industriais durante os próximos três anos.
A empresa de Taiwan, que produz vários gadgets de marcas europeias em regime de subcontratação, emprega actualmente cerca de um milhão de pessoas em fábricas dispersas pelo território chinês. A médio prazo muitos destes operários com salários de miséria poderão ter os seus postos de trabalho em risco. Segundo a Technology Review, o projecto de automatização que está a ser promovido por Terry Guo, líder da Foxconn, tem o objectivo de elevar as linhas de fabrico a um nível de automatização similar às das fábricas de automóveis da actualidade. O projecto reacendeu algumas questões sobre a forma como funcionam as linhas de fabrico de um dos maiores conglomerados industriais asiáticos: a inclusão de robôs poderia pôr termo às polémicas relacionadas com as condições de trabalho da Foxconn, mas teria como efeito os despedimentos de milhares de pessoas – muitas delas jovens mulheres provenientes de províncias mais pobres da China. Alguns observadores lembram que a Foxconn ainda não avançou com encomendas de robôs junto de outros fabricantes de tecnologias, o que pode indiciar que a empresa sedeada em Taiwan poderá estar a preparar o fabrico do exército de robôs nas várias fábricas que tem na China."
O cenário é o mesmo ( instalações e ferramentas ) , mas a mão-de-obra é agora diferente e traumaticamente desafiadora.
Fragilizado por um superego anémico, o homem correrá direitinho para o ocaso.
Era o grande desígnio dos patrões: conseguir o concurso de trabalhadores sem mácula, trabalhadores não remunerados ( oh, supremo orgasmo, apenas uns trocados para manutenção ), de laboração contínua, sem greves nem protestos, reivindicações e ingerência sindical; sem o roubo dessa contribuição manhosa para a segurança social e uma produtividade e competitividade do melhor, já que não transige com paleio, sobretudo aquele paleio da política e do futebol no horário de trabalho. Um "silêncio" encantador.
Mas a mole imensa, um exército de desempregados sem fim, começa a reclamar o direito à
sobrevivência e os tumultos eclodem. A ordem é para exterminar.
" Não divido a minha
ganância com mais ninguém. Querem viver? Transformem-se em máquinas assassinas, como os vossos genes egoístas, pois só os mais aptos sobreviverão. Ninguém tem que aturar velhos e incapazes, doentes e fragilizados, molengas e espertalhaços. A vida não se compadece com compaixão. A vida é luta permanente, é combate total, é desejo de poder e destruição".
E foi assim que um dia os homens revoltaram-se todos e não ficou pedra sobre pedra. Apenas sobreviveram as máquinas , agora já máquinas replicadoras, capazes de uma inesperada e colossal autonomia funcional sobre o meio ; e também uns quantos bandos de anarcas sobreviventes do género humano, agora à mercê destes novos senhores.

Quântico
Do ponto de vista da Física, os átomos não precisam de pensar e muito menos de estar vivos.

O que há de mais subversivo nesta espécie de simulacro que se autodenomina de "ser humano" é a sua espantosa e despudorada habilidade para promulgar a sua própria existência. E a sua arrogância vai tão longe quanto o facto de inventar uma realidade que ele sente que o cerca, e nela perceber padrões e regularidades que, afinal, são de coisa nenhuma. Enfim, de inventar uma memória cujo único fito é o de apenas autenticá-lo. Ou seja, esta máquina virtual, que julga produzir e instaurar sentido, ancorado, como se percebe, numa narrativa de devir imaginàrio, acaba depois por rematar todo este rocambolesco cambalacho ontológico numa projecção final, da ordem do sagrado e por isso transcendental, para sua glória e eterna salvação.