domingo, julho 01, 2012

Um buraco colossal de 2 mil milhões

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Declarava Passos Coelho esta semana no Parlamento, em alto e bom som , que a moção de censura apresentada pelo PCP era contra o Mundo e a realidade, uma realidade tão perversa que, afinal, também ele, arriscamos a dizer, não parece comprender.
Os números que o relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) divulgou sobre a execução do orçamento do Estado, confirmam claramente que o objectivo para fazer baixar o défice está irremediavelmente comprometido.
Para quem tão incisiva, ideológica e arrogantemente afirmava que o seu programa ia salvar a Pátria, estamos conversados. Quanto à realidade, bom..., vejamos:

Ao analisar exaustivamente a génese deste conceito, ficou claro para mim que esta designada realidade, na qual estamos hipnoticamente imersos, é apenas uma desconcertante e aparente simulação de uma verdade maior que se encontra escondida atrás dela. Por consequência, este espectáculo que o estado de vigília nos proporciona permanentemente , este teatro das sensações e das emoções que nos enforma , e que designamos obstinadamente por realidade , não passará , afinal, de um exercício enigmático de uma presença invisível reguladora, que se mostra arredia às mais tortuosas lucubrações racionalistas e cujo fino propósito é o de preservar a ordem e o equilíbrio vital no Cosmos. E bem pode a ciência invocar a sua omnisciente e irredutível Epistème , já consubstanciada num generoso provimento de recursos doados à Humanidade , que a instância permanece inacessível a todas as congeminações, promovendo, provendo e dominando por completo toda esta encenação .
Então, se por real entendemos tudo aquilo que se situa no limite da experiência possível, o que é, afinal, a realidade ?
Será a realidade a mais prosaica manifestação do quotidiano que é captado pelos nossos sentidos, e que justo se reconheça atravessa anonimamente toda a nossa vida ? Ou a realidade é o mais espectacular dos acontecimentos - seja ele de natureza benigna e celebrativa ou terrivelmente trágica?
Será a realidade a primeira manifestação e movimento inaugurador da existência que teve início num alegado Big-Bang? Ou a realidade é, porventura, a extinção póstuma do Universo anunciado pelo princípio da Entropia ?
Será a realidade o mundo mágico das flutuações quânticas, que parecem determinar o aparecimento da matéria ( bosão de Higgs...), tal como um ilusionista tira um coelho da cartola ? Ou a realidade é o infinito efeito das bonecas russas que, saíndo de dentro umas das outras tentam provar que a matéria se desenrola num mesmo teatro de variáveis escondidas ?
Será a realidade a primeira motorização química que conduziu ao aparecimento da vida ? Ou a realidade é a descoberta das técnicas necessárias para evitar o fenómeno da apoptose - a morte programada das células -, com a consequente correcção de todos os erros impressos na planta básica do nosso corpo, evitando assim e de modo permanente o desmoronamento de todo o edifício orgânico ?
Será a realidade o primeiro arco reflexo que iluminou os rudimentos de uma proto-consciência ? Ou a realidade é a mais elaborada e simbólica manifestação do intelecto humano capaz de criar uma criatura ( um artefacto ) à sua imagem e semelhança ?
Será a realidade o advento de uma sociedade constituída unicamente por máquinas ( IA - Inteligência artificial ), com a extinção, por via burocrática, da espécie humana ? Ou a realidade é a perpetuação desta espécie sustentada por uma mirabolante miríade de aplicações e efeitos psicocibernéticos?
Será, por fim, a realidade aquela que é verdadeiramente intransmissível , aquela que é a fonte de onde tudo brota, a fonte imperturbável que se esconde por detrás deste espectáculo incrível que é o nosso estado de vigília e que nos leva a viver um sonho que designamos por real?
O que ao certo sabemos, é que a sua presença é de tal forma avassaladora que até nos momentos mais sórdidos da vida quando, por exemplo, se dá a grande rotura dos mecanismos biológicos ( a eminência da morte ) e o cérebro entra em colapso final, é ela que promove a última descarga de neuroquímicos reajustadores que diluem as noções de espaço e de tempo do moribundo, provocando o esquecimento e um fenómeno designado por percepção oceânica de fusão com o todo. É, na verdade, nestes derradeiros instantes de sofrimento atroz e alucinado, quando todas as funções estão a cessar e o organismo se prepara para a desintegração completa, que a força inabalável do real-Real se revela, ao anestesiar a mente com uma forte pedrada química - algumas pessoas que sobreviveram ao estado de coma, afirmam convictamente que viveram uma experiência extraordinária, percebida por elas como se achassem a percorrer um longo túnel, ao fundo do qual surgia uma resplandecente luz que lhes transmitia um enorme sentimento de bem-estar e de serenidade indescritíveis.
Em suma e apesar da recensão, a Realidade é hoje, pelos vistos, como Passos Coelho não quer ou finge não compreender, amargamente discriminadora. E é discriminadora porquê, pergunta-se ? Porque enquanto em muitos lares desta amaldiçoada terra se chora convulsivamente a doença e a morte por falta de apoios na saúde e se sofre abjectamente a calamidade do desemprego e da miséria por ter sido aplicado um programa cruel, Eugénico e Neodarwinista, como não há memória, com vista a extirpar a sociedade dos "aleijões e inadaptados" que, segundo eles, corroem o orçamento do Estado, noutras " casinhas", mais arejadas e indecentemente faustosas ( outras manobras... ), continua-se com deleite a desfrutar da vida e a explorar os outros ( Marx ).