As antenas do outro mundo
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Confrontando a diferença abissal existente entre a magnífica especialização do cérebro e das suas funções superiores com o espectáculo deprimente e rudimentar do balbuciar cognitivo humano, comprovado profusamente pelas dificuldades que as pessoas sentem em conseguir desenvolver um pensamento lógico adequado e raciocínios escorreitos, somada ainda à indigente forma como transformamos o pensamento e as ideias em discurso , quase que poderíamos afirmar que o homem ainda está na pré-história do seu desenvolvimento. Contudo, não deixa de ser extraordinário constatar que este fenómeno assaz sui-géneris que aparece no ser humano, que o define e coloca muito àparte do resto da natureza, esta sua faculdade de subjectivar e tomar consciência do real que o cerca, pode levá-lo muito longe, quiçá para o Olimpo dos deuses.
Tendo em conta que o cérebro humano é constituído ( sensivelmente ) por 12 biliões de neurónios, e que as ligações que eles estabelecem entre si são da ordem dos ziliões de vezes, que é uma quantidade quase obscena de ligações e de possibilidades ( muito superior até, diz-se, ao número de partículas atómicas que permeiam todo o universo ) ; e também levando em consideração o tempo quase incomensurável que decorreu ( da ordem dos 13 mil milhões de anos ) desde o início dos tempos até aos dias de hoje, torna-se portanto bastante plausível admitir que o aparecimento dessa fantástica impossibilidade lógica que é a subjectividade e, concomitantemente , a aventura da consciência se deva exactamente a este jogo de roleta cósmica de grandezas quase ilimitadas. Porém, há quem pense que tal não é assim. Embora bem suportada pelas neurociências e pela maioria dos investigadores em ciências de ponta, nomeadamente por aqueles que procuram a natureza última da realidade , um assinalável grupo de pensadores continua a acreditar que não somos apenas matéria pensante. Existe de facto um demónio dentro da máquina que pensa e fala. E assim sendo, equacionando estes dois sistemas de pensamento, nós somos, afinal, apenas epifenómenos que teimam inutilmente em conseguir carta de alforria, ou o núcleo duro da IA ( Inteligência Artificial ) e das Neurociências , que é a completa incapacidade para explicar a subjectividade, o pensamento e a consciência continuará a estar para sempre vedado ao conhecimento humano como um enigma inultrapassável ?
Será, na realidade, o cérebro que segrega o pensamento, ou o pensamento segrega o cérebro ?
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