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Se o Governo está fora da constituição, ou o destituímos ou faz-se nova revolução.
Diz o primeiro-ministro, em resposta à greve geral de anteontem, que este país precisa é de trabalho ( bem prega frei Tomás). Em resposta a esta boutade do senhor Primeiro ministro, disse Carlos Silva,  actual secretário-geral da UGT: "para falar sobre trabalho, é preciso saber o que é ". 
Pois é, temos um Governo composto por ministros que seguramente , na sua maioria, nunca souberam o que é verdadeiramente o trabalho ( aquela coisa que o étimo define como instrumento de tortura -  sobre os trabalhadores, claro... )  e que estão a fazer todos os  possíveis, noite e dia, para atentar contra ele.
Mas, então, se o que é preciso é trabalhar, onde está o trabalho ? Ou, melhor, onde está o emprego? Onde estão os postos de trabalho à nossa 
espera, como diriam os jovens e o milhão de desempregados deste País?  Como é possível trabalhar se este governo destruiu mais de meio milhão de postos de trabalho,  e está em vias de pôr na rua outros tantos . E as empresas, as fábricas e a economia ? Cadê elas?
Para Passos, disse em texto assinado no Diário de Notícias Fernanda Câncio ,"o salário deve ser idealmente uma coisa que depende do défice e dos juros da dívida e dos movimentos do mercado ( a começar pela taxa de desemprego ), flutuando de acordo com as conveniências do empregador e imune a quaisquer estipulações legais - essas só contam para contratos com bancos e consultoras financeiras" - é que não há critério científico que possa distinguir no processo de produção a parte que corresponde aos lucros do patrão e a parte que corresponde aos salários dos trabalhadores. O que parece existir é uma natureza insana que leva o homem a criar violentamente desigualdades na distribuição da riqueza e a promover permanentemente um mundo de tensões e de  desequilíbrios. Eu até sou capaz de reconhecer esta fatalidade e concordar com as teses darwinistas, mas como sou de esquerda ( como o ar que respiro ), também posso afirmar solenemente que  " Je suis Neodarwiniste, tendence gauche"  -  a revolução estará aí brevemente, como já esteve,  para demonstrá-lo, até à saciedade.  
Nós, os explorados deste mundo, temos de perguntar a toda essa gentalha de oportunistas e malandros ( para já não falar no Governo e nas suas cassandras de serviço ) que defendem esta austeridade de cão, se alguma vez conseguiriam viver com uns míseros euros por mês, como a maior parte do povo vive. Perguntar a esses sabujos que vivem de barriga cheia e a quem nunca lhes faltou nada se teriam a coragem de papaguear as eloquentes baboseiras com que todos os dias nos mimoseiam se não tivessem trabalho e não recebessem subsídio de desemprego; ou se não tivessem dinheiro para pagar a taxa moderadora para tratar um filho no hospital; ou se padecessem de todas as faltas e carências que sobram à miséria . Que fariam estas bestas intolerantes perante o abandono completo ?  Boa pergunta, não é? Mas é exactamente por terem consciência e por saberem isso de sobra que eles procuram perpectuar  o domínio que têm sobre os escravos, e a todo o preço, como sempre o fizeram e vão continuar a fazer , até nós deixarmos. 

Companheiros de jornada, nós é que teremos de tomar o destino nas nossas  mãos e dizer clara e inequivocamente a esses bastardos da espécie humana, a esses banqueiros de trazer por casa e do aguenta aguenta, que estão aqui a mais; nós é que teremos de dizer  a esses  racistas da treta que passam o tempo todo a emitir sound bites, como aquele em que se  afirmou que a História iria um dia absolver Gaspar, para se calarem de vez enquanto é tempo, porque  os tempos vão loucos - não acham? Nós é que teremos de dizer a esses chacais que estão ao serviço de centrais internacionais de poder e exploração , como a Goldman Sach, que dizem que a austeridade é um dever, para desaparecerem da face da terra, porque já não estão aqui a fazer nada, são autênticos traidores - esta gente, que não apenas fez tudo para levar o governo anterior a  ajoelhar-se perante o estrangeiro e a aceitar o humilhante garrote financeiro da Troika, e nos atirou para a indigência, é depois  ainda premiada com altos cargos ( pelos serviços prestados ) a ganhar imoralmente rios de dinheiro, para além, claro está, das chorudas reformas e prebendas de sempre. 
Tento na língua, é o que nós exigimos, porque o povo pode ser pacífico, pacífico até à náusea, mas haverá com certeza um dia em que acordará revirado, e depois tudo poderá acontecer. É que estes  bandalhos terroristas que estão a destruir o País e que levaram a vida inteira a mamar, quer directa ou indirectamente, nas tetas do Estado e a vampirizar o povo, já não podem mais macular o solo sagrado da Pátria.  Todos sabemos quem eles são e o que fazem. Já os conhecemos de ginjeira de outros carnavais. Temos plena consciência de quem torrou e arrecadou o nosso dinheirinho, muito embora se continue a espalhar falaciosamente a narrativa de que fomos nós que gastámos demais, que gastámos o que tínhamos e o que não tínhamos e que por isso devemos ser responsabilizados. Mas eles hoje também já sabem que nós sabemos que eles sabem que passam sempre incólumes por entre os pingos da chuva sem nunca serem atingidos nos seus interesses pelas crises deste mundo. A não ser  que, apesar de bem instalados e protegidos nos seus bunkers, a ralé faça um dia tenção de os ir buscar para , de uma vez por todas, saberem  o quanto custa  a austeridade.
Mas de modo algum nos poderemos esquecer que quem é suficientemente forte e inteligente para nos libertar, também é suficientemente forte e inteligente para de novo  nos acorrentar e escravizar. Procuramos , na verdade, o impossível, mas temo estarmos condenados a fazê-lo sempre,  porque esta é a nossa condição, porque jamais poderemos  admitir a renúncia, jamais poderemos desistir  de combater e sonhar. 
De pé , ó vítimas da fome!...