segunda-feira, julho 14, 2014

Solipsismo

CONNECT !!!

De repente, fui invadido por um sentimento de pânico, uma asfixiante e intensa sensação de claustrofobia tomava conta de mim. Na realidade, sentia o meu cérebro a ser sugado por uma força atractiva imparável, como se uma bomba de vácuo instalada no âmago do meu ser estivesse a extrair-me da existência e com isso a provocar o colapso final. Este poderoso vórtice, escoando a uma velocidade vertiginosa, era constituído por um caldeamento de imagens, memórias, ideias, dúvidas e interrogações  que giravam estonteantes  em direcção ao lugar de nenhures, quiçá a sede da minha "infactualidade". Por várias vezes senti os pés a fugirem-me do chão, queria controlar a situação mas não conseguia, os meus gestos e a firmeza da concentração vacilavam a todo o instante, parecendo até que já não havia mais nada a fazer. O presente dividia-se agora entre um real imaginado e uma alucinação que se presentificava materialmente. Não sabia onde parava o ponto de equilíbrio de tudo isto. Talvez a  dose tivesse sido erradamente inflacionada, ou então o sonho do sonhador era inflado de vacuidade, embora fisicamente substancial. Por outro lado, a pressão e o esvaimento que sentia dentro da cabeça, acompanhado por um zunido estridente e contínuo como aquele que se sente quando se mergulha em apneia, não augurava nada de bom. E o coração, para concluir o quadro instável que resultava de todas aquelas manifestações e sensações,  dava também sinais preocupantes de alteração e  ritmo. Não suportava já tanta adrenalina à solta e pressentia que ia ser desligado a todo o momento. O campo visual encolhia, como se eu estivesse a distanciar-me do lugar e da circunstância e, agora, minguado, na sua periferia começavam a aparecer aquelas luminescências indiciadoras de um desmaio iminente. Por breves instantes balancei o corpo, que parecia agora uma nave desgovernada, e sucumbi ,estatelando-me com algum fragor no chão. 

Mas, na verdade, não..., não foi isto que aconteceu, porque  o que há de mais subversivo nesta espécie de simulacro que se auto-proclama de "ser humano", é a sua espantosa e despudorada habilidade para promulgar a sua própria existência. E a sua arrogância vai tão longe quanto o facto de inventar uma realidade que ele sente que o cerca e nela perceber padrões e regularidades que, afinal, são padrões e regularidades de coisa nenhuma. Enfim, de inventar uma memória cujo único fito é o de apenas autenticá-lo, de construir um eu para que o plano seja perfeito. Ou seja, esta máquina virtual, que julga produzir e instaurar sentido, ancorada, como se percebe, numa narrativa de devir imaginário, acaba depois por rematar todo este rocambolesco cambalacho ontológico com uma projecção final ,da ordem do sagrado e por isso transcendental, para sua eterna glória e salvação.


Mas, então, que cena é esta? Não estou a perceber rigorosamente nada?Preciso urgentemente de me situar. Existo ou não existo? E a realidade, o que é a realidade ? Também ela existe ou é apenas um simulacro, tal como eu ?
Bom, com efeito, a realidade é afinal esta , e apenas esta, a que está bem aqui , mesmo à nossa frente, nua e crua, preto no branco. Bastará apenas abrir os olhos e acordar. Com a breca!, basta de simulações e manipulações . Será que não conseguimos enxergar que estamos a ser dominados e alienados por uma crença ridícula ? Diz quem sabe que a fé , essa venda magnífica e a mais inteligente criação do imaginário humano, um opiáceo muito forte que visa aplacar o horror que irrompe das nossas entranhas, não passa de pura abjecção mental. Por consequência, acreditar em fantasmagorias poderá não ser o melhor caminho para a salvação. Acreditar que a realidade não passa de um sonho e que a materialidade do mundo é uma insidiosa abstracção, é cometer uma deplorável imprevidência - atira tu a cabeça com força contra uma parede e verás quão delicada é a óbvia realidade. A dor será enorme e a tua singela cabeça não ficará, com certeza, em muito bom estado.
Mas , atenção!, a dor só existe para que a ilusão se torne mais credível e melhor sucedida nos seus truques.
Em que ficamos, então?