sábado, junho 28, 2014

O Mundial e a Pegada Cultural

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Falar ou fazer luz, ou simplesmente lançar pistas sobre a participação da selecção portuguesa neste mundial é demasiado penoso, senão mesmo um exercício condenado ao fracasso, já que neste mundo nada se move, como facilmente se veio a comprovar com a recondução moral do seleccionador no cargo. Foi na realidade  confrangedor o que (não) fizemos, uma rábula ene vezes ensaiada e repetida ao longo destes últimos anos, muito embora com alguns lampejos de genialidade (raras vezes, diga-se) . Mas foi mau, mesmo muito mau. Se me permitem a ousadia de glosar o tema naquilo que para mim pode ter sido a trave-mestra do desastre, observemos então o seguinte : 

1- A selecção tem um seleccionador/treinador que foi desde o início um erro de casting. Paulo Bento pouco sabe deste métiér, é um facto. Por mais que queira, o Paulo nunca deixará de ser o treinador dos juniores. E depois é demasiadamente inflexível e orgulhoso para poder dar a volta à sua inexperiência quando pretende mostrar que sabe e que sabe estar aos comandos da selecção. Veja-se o caso dos necessários ausentes desta convocatória: Antunes, Ricardo Carvalho, Tiago, entre outros, que podiam ter dado uma valiosa contribuição à selecção, não fosse a sua irredutibilidade e falha em estabelecer pontes de entendimento. E quanto a modelos, tácticas e enquadramento de jogadores , estamos conversados ( basta atentar no erro de ter colocado uma criança a ponta-de-lança e um Veloso de câmara lenta a jogar a defesa esquerdo ) . 

2 -  Para além do handicap do seleccionador, a selecção portuguesa  também tem  o mais bizarro melhor jogador do mundo, um puto mimado que anda sempre a fazer birras, a mandar vir com os seus companheiros e  sempre na retranca durante o jogo sem por o pé para nada. Ainda por cima, acumula ( outro erro, coitado ) o posto de capitão dentro do campo e o de seleccionador nacional fora dele, uma vez que é ele e o seu grupo que mandam e dispõem no balneario. Na verdade, o nosso Joker  da bola apenas cuida da imagem dele, como uma obsessão doentia, e nada mais. Compare-se as prestações de Ronaldo quando começou a jogar pela selecção , ainda a jogar com Figo, um puto empenhado, dinâmico e humilde, com os  desempenhos dele hoje, passados que foram cem milhões de Euros desde aquela data. Não há comparação possível. 

3 - Depois, a equipa não sabe fazer futebol dentro do campo, os jogadores limitam-se de forma estranha a lateralizar a bola e a passá-la ao nosso guarda-redes ,  como se a essência do jogo fosse aquilo. Às vezes, até conseguimos lançar uns rápidos contra-ataques sobre o adversário, mas imediatamente regressamos a correr para a nossa casinha aterrorizados com a possibilidade de podermos vir a sofrer algum inoportuno golo . Por outro lado, e relativamente ao resultado desejado, adoptamos sempre uma estratégia em campo muito temerosa que nos leva a estar sempre com receio de perdermos a magra vantagem que ás vezes até conseguimos sobre o nosso adversário - Quer seja um resultado afortunadamente obtido à justa, quer seja na manutenção de um reconfortante empate que, por certo, dará sempre a garantia de algum futuro. Ou seja, os nossos craques abdicam de serem eles próprios  para serem o medo e a mediocridade do treinador. Jogadores que jogam à bola não jogando, jogadores que oferecem permanentemente o domínio do jogo ao adversário, com certeza que não conquistarão grande coisa.  
Salvo raras e honrosas excepções, a maior parte dos nossos estimados treinadores continuam ainda hoje a contribuir para tornar o nosso futebol pouco atractivo, deselegante, defensivo e tragicamente inoperante.
Poder-se-ia dizer que os treinadores portugueses, ao contrário de outros treinadores que deixam minimamente os seus jogadores mostrarem a sua criatividade e alegria, exibindo no relvado um futebol repleto de técnica e ofensivo, passam a vida inteira a aplicar uma filosofia de jogo que apenas confirma o pressuposto enunciado na tese do pensador José Gil quando afirma que o português é ontologicamente medroso.
Foi isso que aconteceu logo no primeiro jogo com o papão alemão, e foi também o que aconteceu no jogo com os Estados Unidos  depois de marcarmos o primeiro golo e quisemos segurar o resultado, decorriam ainda  os primeiros minutos do jogo. E quando, finalmente,  tivemos que enfrentar desapiedadamente os nossos medos no jogo com o Gana, quando não havia volta a dar porque o resultado só poderia ser um, nesse jogo, pelo menos nos primeiros vinte minutos, a equipa nacional mostrou, embora com muitos sobressaltos, que sabe mexer na bola.
Somos pequeninos, na verdade, ou querem que acreditemos nisso. Medo, muito medo, sempre.

4 - A acrescentar a tudo isto e onerando definitivamente a performance da selecção, temos ainda a destacar o cansaço revelado pelos jogadores dentro do campo, até parecia que estavam a regressar de umas férias de seis meses, exaustos. Para já não falar do erro cometido no programa de adaptação ao clima, visto que chegámos ao Brasil praticamente em cima do início do evento. A somar a tudo isto, senão mesmo inclusivamente associado, não podíamos deixar de mencionar também a acção directa ou encapotada dos empresários e patrocinadores a dar uma dimensão fatal à possibilidade da equipa ter aparecido nas melhores condições para disputar o campeonato : ele era passerelles e vernissages, coiffeur e tattoos. 

5 - Depois, a participação da selecção portuguesa neste mundial do Brasil, à semelhança do que tem acontecido em campeonatos anteriores, parece que constituía um desígnio nacional, uma espécie de desiderato ontológico, como se estivéssemos a ir para a batalha de Aljubarrota, em que as derrotas são encaradas como vergonhas nacionais e as vitórias  tidas como emanações Sebásticas do Quinto Império".Tenham dó.

6 - Finalmente, a  única coisa boa que deixámos no Brasil, com raízes sólidas e que bem patente está aos olhos de todo o mundo, foi a Pegada Cultural fantástica que data de há quinhentos anos atrás. Uma cultura de miscigenação, uma forma de estar e de ser muito sui generis que fundámos e ajudámos a desenvolver e que, para além de todos os incidentes de percurso, relativismos de interpretação e da contribuição efectiva dos indios brasileiros, da África negra e de todos os povos que chegaram àquele país continente, não tem paralelo com nenhuma outra cultura no mundo. O Brasil é hoje uma sociedade nascente , cheia de pujança e com um futuro extraordinário pela frente. E nós , portugueses, como tetratetratetravôvôs deles, assinamos por baixo, orgulhosos. 

Brasil, meu Brasil brasileiro

(...) Depois da bateria de uma escola de samba, a coisa mais emocionante do mundo é ver as velhas mulatas vestindo as saias rodadas de baianas no asfalto da avenida Presidente Vargas e vê-las rodar, com os seus óculos de dez diopedrias, os seus calos, as suas carnes secas. São totens vivos. Deusas.(...)