segunda-feira, junho 08, 2015

Bovinices

CONNECT !!!

Não, de modo nenhum nos devemos bovinamente resignar à espera que o abismo nos engula. Porque não é lícito pensar que gostamos de sofrer, mesmo que mergulhemos novamente de forma estúpida e acrítica num rio infestado de crocodilos. Mas parece que sempre fomos assim, temos a atávica mania de nos comportarmos como um rebanho. O medo ou a dúvida impelem-nos a ficar sempre todos juntos e a seguir incondicionalmente o que vai à frente. Está inscrito no nosso manual de sobrevivência.
Vem isto a propósito da ponderação que necessariamente teremos de fazer sobre o sentido de voto nas próximas eleições legislativas, uma vez que vão ser elas o grande definidor do quadro governativo e de poder em Portugal para os próximos tempos, com repercussões importantes nas nossas vidas. Assim sendo, e já que o regime democrático nos oferece a possibilidade de podermos, mesmo que ligeiramente, alterar as políticas que mais directamente nos dizem respeito, nomeadamente no campo da saúde, da educação, da fiscalidade, do emprego e da segurança social, era bom que os eleitores tivessem em conta que o pleito eleitoral se vai disputar, como sempre e unicamente, entre duas formações: o Partido Socialista e a coligação de direita que actualmente nos governa. Não restando dúvidas ( quero crer ) sobre tão evidente asserção, parece-me então justo reconhecer que a opção mais óbvia, pelo menos para quem nestes últimos 4 anos esteve a viver em permanente sobressalto ( e parece ter sido a maioria dos portugueses, por uma razão ou por outra  ), será  a de votar no Partido Socialista. Concedo, no entanto, para quem padeça ainda da inefável dúvida sobre o seu sentido de voto e não seja patologicamente masoquista ou revolucionário consequente, que  reflicta bem sobre a decisão que vai tomar , porque o registo dos resultados eleitorais em Portugal desde o 25 de Abril sempre indicaram esta verdade insofismável : ou ganha o Partido Socialista, ou  ganha a direita. Seguindo a linha deste raciocínio, e para tranquilidade dos espíritos mais assustados ou confusos, seria de bom tom e também conveniente que os portugueses não voltassem  a entregar nas urnas, por interpostos partidos, dispersando assim os votos à esquerda, o poder a  esta direita, cujas consequências nefastas já todos nós infelizmente conhecemos.  
Os portugueses na sua maioria, infelizmente ou não, dependendo da grelha de valores que se queira aplicar, preferem votar nos partidos do chamado Centrão. Se é por ignorância, talvez porque somos ainda um País um tudo nada atrasado, como tão tristemente se constata, se é por bloqueios culturais, provocados por meio século de ditadura, cujos ecos ainda se fazem sentir, ou se é por fundamentalismo tribalista ( eu sou do Benfica, porque sim, é a minha gente ),  o que é certo é que a realidade eleitoral, com mais ou menos ligeiras oscilações,  não se tem alterado desde então. Daí pensar que é chover no molhado continuar a apostar nas outras formações de esquerda, nomeadamente aquelas cuja expressão eleitoral é diminuta ou pouco expressiva. Exceptuo aqui unicamente o Partido Comunista, uma vez que à esquerda , para lá do Partido Socialista, é a única força política que consegue ainda concitar um número razoável de votos, muito embora pense, tal como muita gente hoje, que a sua tradução real e influência na vida política do País é verdadeiramente pouco significativa. Relativamente aos outros agrupamentos da chamada esquerda revolucionária, aquilo que apenas posso dizer, pela prática demonstrada até hoje, é que eles lamentavelmente continuam a perseguir o sonho egocêntrico dos seus mentores e nada mais. De todo o modo, e querendo ser consistente com o discurso que tenho feito até aqui, procurava também lembrar que vivemos, desafortunadamente, num mundo globalizado e capitalista, com tudo o que isso implica no domínio económico e financeiro. Agora, imaginar que experiências político-ideológicas mais radicais poderiam eventualmente ter sucesso ( veja-se o caso do Siriza ), é no mínimo confrangedor, exactamente pelas razões mais  óbvias. Já para não falar nos custos sociais  que isso obrigaria e do isolamento internacional a que o País seria naturalmente votado. Que o digam a Rússia dos sovietes ( ou dos novos Czares )e a China do campesinato ( ou dos novos mandarins ), verdadeiros baluartes hoje do capitalismo mais selvagem. E Cuba, de Fidel, também ela hoje a transformar-se , como o notam os últimos desenvolvimentos  políticos naquele País. Ademais, a História mostra-nos cabalmente que o tempo das quimeras já acabou há muito, tendo ficado à vista de toda a gente que é a natureza humana mais profunda e individualista quem detém, na realidade, os cordelinhos e as regras do jogo. 
Quanto à profissão de fé e visão do mundo ( tal como eu tenho ) de muitos daqueles que vão votar noutros partidos, compreendo e reconheço perfeitamente, tal como o cortejo de argumentos que podem aduzir para sustentar as suas teses. Obviamente que também sei que o mundo dos interesses é transversal aos partidos do chamado arco da governação - há muita gente a viver à conta do sistema . Mas também acredito que o verdadeiro combate a ser travado hoje é no interior do próprio PS, um combate que possa levá-lo novamente a defender as causas e os princípios fundadores que estiveram na sua génese, como advogam, entre outros, Mario Soares e os jovens turcos . É por tudo isto que ainda consigo notar aquela diferença essencial entre as preocupações sociais de uns, a verborreia panfletária e inconsequente de outros e, logicamente, o eugenismo darwinista e selvático de quem nos governa. Poder-se-á alegar que votar no Partido Socialista é a escolha do mal menor, já que também nunca saberemos ou teremos poucas certezas sobre qual seria a escolha do bem melhor. Mas o mal maior parece já todos sabermos qual é, pelo menos para aqueles que viram as suas vidas completamente trucidadas ou severamente prejudicadas por esta coligação de direita.