sábado, julho 11, 2015

Encenações

CONNECT !!!
Dizem que a diferença entre uma obra literária e uma peça judiciária é que a primeira cheira a tinta e a segunda, muitas vezes, tem a perfídia da vendetta e o gosto a sangue.

A notícia era esta:
"Caso Sócrates: Armando Vara detido.
Armando Vara é suspeito de corrupção e fraude fiscal , afirma o Ministério Público. 
O ex-ministro socialista foi detido para interrogatório no âmbito da "Operação Marquês". 

Naturalmente que não sabemos qual vai ser o desfecho de todo este processo, nem temos a estultícia de pensar que existem meandros pútridos e sombrios na justiça a fazer o jogo político, como assinalou José Sócrates, ou ter a fervorosa presunção de inculpabilidade manifestada pelos apoiantes incondicionais do arguido quando estes pedem a libertação do preso da cela 44 da cadeia de Évora. No entanto, apetece também invectivar a Justiça sobre o princípio da presunção de inocência num Estado de Direito, exigindo, para o efeito, explicações sobre o tempo discricionário aplicado na prisão preventiva. Seria interessante, pois, saber se a boa administração da justiça continua incólume e a ser uma realidade à prova de bala, se a morosidade da prisão preventiva decorre de acordo com as verdadeiras necessidades da investigação, ainda em curso, muito embora não tenham sido apresentadas até à data nenhumas provas concludentes sobre os crimes apontados ao arguido, apenas indícios e conjecturas; e se tudo isto, nomeadamente o princípio da presunção de inocência,  continua ainda a vigorar neste país, se ela continua ainda a ser uma prerrogativa legítima de quem caiu sob a alçada da Justiça - até prova em contrário, até transito em julgado, qualquer cidadão, seja ele quem for, continua a ser considerado inocente face à lei, mesmo que já esteja irremediavelmente condenado, destruído e proscrito na praça pública. 
Por tudo isto, e face aos tempos conturbados que todos estamos a viver, até apetece dizer que, por este andar, o Partido Socialista vai todo dentro até às eleições, pois nem um herege militante sobrará para contar a história aos seus netos. Depois das eleições, dizem, naturalmente a cena converter-se-à. Serão todos soltos e mandados para casa como se nada tivesse acontecido até ali, porque o destino já estava traçado, como no fado. 
Por isso, meus amigos, até à realização das eleições legislativas, é preciso ter muito cuidado, porque o lema é : até fartar vilanagem.

Agora, olhando melhor para a imagem que suporta o texto, dá-me a ideia que ela é insidiosa e até enganadora. Segundo parece, dizem os peritos, o ângulo de visão que temos sobre ela enferma de um pequeno senão, enferma de um pequeno "quid pro quo", é que os reputados socialistas presentes na imagem estarão na parte de fora das grades e não atrás delas. Impõem-se, portanto, a pergunta: quem estará dentro do calabouço? Imaginemos... É por isso que não queria deixar de assinalar o facto de a fotografia ter sido paradoxalmente tirada já depois das eleições legislativas realizadas, tendo o Partido Socialista saído vencedor. Parece que houve uma brecha no tempo, como na ficção científica, que proporcionou ao fotógrafo fazer uma estranhíssima e fabulosa viagem no tempo para colher aquela imagem do futuro.