quarta-feira, abril 30, 2014

A grande música

CONNECT !!!
INTERNET EXPLORER
Passava com alguma frequência e era ouvida com excitação, mas já está fora do circuito comercial há algum tempo. A que hoje se vende, também já tem os dias contados, a assunpção de novas sonoridades parece estar a invadir o espaço do mainstream. Pelo menos até chegarem os novos bárbaros ( Hegel   Movimento perpétuo, eternamente repetitivo e coagulado ). 
Até os Deuses conspiram quando nasce uma obra prima musical, seja ela criada por Mozart ou por inspiração de Sting . 

"A música é para mim como o ar que respiro, não poderia viver sem ela ".

É desde tempos imemoriais que apreciamos deslumbrados o som das esferas - coisa do domínio da emoção estética, creio. Diz muita gente por aí que a musica que se fez e ouviu ao longo da história da humanidade é ( e será sempre ) música datada, nunca música com a marca da perenidade. Música datada pela época que a viu nascer e que a viveu, ou então definida pelo período da sua existência funcional. Deste modo, as épocas e os estilos musicais foram sempre sucumbindo uns atrás dos outros para dar lugar a novas épocas e novos estilos, habitualmente introduzidos pelas gerações nascentes. E nem a chamada grande música, ou música clássica ( como se queira chamar ) resistiu ao crivo do tempo e das modas por mais que tenha sido ou continue ainda a ser venerada, universalizada e elitistamente considerada. 
Outros apaixonados pela arte, ao contrário, entenderão que a música, com todas as suas variantes melódicas, geográficas e epocais será para sempre eterna, não admitindo por isso que a emoção do seu poderoso arrebatamento possa vir um dia a desaparecer da "audioteca" do Mundo. A música para este tipo de melómanos abrangerá sempre toda a paleta musical, e a cronologia e a legião de gostos a marca intemporal da sua versatilidade. E para que esse fenómeno se perpetue, na eventualidade de aparecerem algumas redutoras resistências, dever-se-à ministrar o respectivo corrector pedagógico por forma a levar as ovelhas tresmalhadas ao redil atávico das convicções dos mestres. Com esse tratamento, o deficiente e deseducado ouvido, ou gosto musical dos recalcitrantes,  será apurado e refinado para glória e prazer da pauta completa. Tudo muito simples, como se depreende. 
A música popular urbana ( que é a que me trouxe aqui ), associada a movimentos e modas culturais, só aparece com alguma dimensão após os processos de industrialização e urbanização da sociedade, tornando-se mais tarde, no século xx, depois do aparecimento da rádio e dos discos, sobretudo, no género musical mais icónico, escutada no dia-a-dia e presente nas festas para dançar e socializar. Recentemente, com a revolução do ciberespaço e do mundo hi-tech, que está a conduzir aceleradamente a humanidade para níveis cada vez mais acentuados de informação e fruição, a todos os níveis, os ciclos que regulam o gosto musical tornaram-se mais curtos. Basta apenas a passagem de uma geração para outra para tornar obsoleta a vanguarda que até aí vigorou e ditou o mainstream. Porém, o novo movimento ( a nova vanguarda ) também ela se vai cristalizar numa imagética e numa lírica totalitária, que não transigirá nem contemporizará um milímetro sequer do seu eterno presente com os demais gostos musicais - quer os do passado recente, quer ( e muito especialmente ) com os do imediato futuro. É mais uma dura ortodoxia que se instala ( no meu tempo é que era ), com os seus directores de gosto, clubes de fãs, guarda pretoriana e tudo o mais. De qualquer forma, a pressão implacável que a emergente tendência musical vai imprimir ao establishment, com novas sonoridades, mitos e por vezes formas de estar e de ser diferentes ( como o vestir e comunicar ), enfim, quase podendo falar-se no advento de um novo contexto cultural ( para quem o vive, obviamente), não vai deixar margem para recuos históricos : ao velho sucederá o novo, lá dizia com sapiência o senhor de La Palisse.
Mas a música é sobretudo emoção, comoção , sentimento, pois pertence à arte das musas, como diziam os gregos, e não se compadece com teorizações e racionalizações, apesar da matemática e da lógica imperarem nas pautas da música - nos arranjos, nos ritmos e harmonias - e com isso influenciar a percepção auditiva. De facto, definir a música não é tarefa fácil, no entanto ela é considerada como uma manifestação cultural por excelência. A música é, pois, considerada uma das formas mais sublimes da expressão humana, um fenómeno natural e intuitivo que abrange toda a humanidade . Não apenas a humanidade no seu conjunto e geografia , mas também na pegada histórica que deixa, uma vez que existe desde que o homem começou a ouvir e a emitir sons, até aos dias de hoje - Não se conhece nenhum povo, nem lugar, nem época que não possua a sua lírica. A música é, portanto, a arte e a técnica de combinar sons de forma melodiosa, transportando estados de alma, memórias e vivências fantásticas, plasmadas no espaço e no tempo. Do ponto de vista social, a música pode induzir o homem à criação de padrões de comportamento e gerar mentalidades, naturalmente incorporada num espírito de época e na iconografia dominante, porque a música produz significado. Diz-se, por vezes, que o ouvinte não consegue atingir a mensagem do compositor e por isso reinterpreta o "material musical" a seu gosto inventando outro significado. Esse significado terá origem na sua sensibilidade, no seu próprio critério e envolverá não só o conhecimento, a cultura e o seu estado emocional, as suas memórias e imaginação, mas, sobretudo, o envolvente e diáfano manto da sua espiritualidade. Poderíamos tentar também ordenar a música em classes, conforme o seu "valor" - erudita ou popular ; em género, de acordo com a forma como se distingue quanto à natureza da sua função social - religiosa, militar, folclórica, etc.; segundo as espécies e estilos - baladas, valsa, tango , pop urbana e rock, por exemplo; e depois , num critério ainda mais estreito, como subespécie, classificá-la quanto à característica ligeira que a diferencia das demais. No caso do rock, por exemplo, se ele é progressivo, sinfónico, psicadélico , etc ( apesar destas categorias já terem caducado há muito). De resto, como é natural, tudo isto depende dos conceitos aplicados e das abordagens feitas sobre o tema.
Para finalizar, e no que concerne à roda hegeliana da história, as gerações mais jovens tenderão sempre a rejeitar a música e os estilos das gerações que as precederam, como os putos de hoje fazem chacota da música não já daquela que ouviam os seus pais, porque mais afastada e arcaica, mas daquela que foi emotivamente vivida pelos jovens da faixa etária que imediatamente os precedeu, muitas vezes, apenas, com um intervalo temporal muito curto de diferença. 
Quer se queira ou não, toda a paleta musical, sem excepção, continuará a ser sempre ( e neste contexto, sim ) a grande Música, muito embora a existência desses ciclos sem fim de ressurreição e morte e da aparente diferença de sonoridades, estilos e gostos.