quinta-feira, abril 17, 2014

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"A única coisa pior que uma prisão, é uma prisão que você não sonha existir, uma prisão que você não pode cheirar, provar ou tocar, é a prisão da sua mente". Mas se um dia descobrir este hediondo crime, que afinal toda a sua vida não passou de uma sofisticada ficção, talvez não esteja ainda pronto ou não queira mesmo ser desconectado, como a maioria das pessoas, preferindo antes continuar a viver na ilusão.

Não existe (m) verdade (s), não passa tudo de uma grande mistificação, porque, ao que parece, segundo a teologia da Libertação ( não, não é essa... ) o que afinal temos são imagens de outras imagens, simulacros e simulações, jamais o real. No princípio ainda acreditamos que há um reflexo fidedigno da realidade, mas com o tempo ele distorce-se e, no fim, já não há ligação nenhuma com o original, se é que alguma vez este existiu, ou se o final também não é outra rebuscada encenação.
Sócrates foi condenado e acabou por morrer porque tentava explicar às pessoas que havia um plano superior de realidade. Platão, alegava que nós éramos como prisioneiros acorrentados numa caverna, acedendo apenas ao real através das sombras que eram projectadas na parede. Já na fábula de Tchuang-Tzu, da cotovia e das rãs, que viviam sob o jugo de uma rã mestra no fundo de um poço e sem terem acesso ao mundo exterior, era uma cotovia que ao esvoaçar até aquelas profundezas falava de um mundo de luz e de cor que ficava para lá daquele buraco húmido onde vegetavam. Interpretando as palavras da cotovia como uma metáfora, as rãs rebelaram-se e mataram a rã mestra, conquistando desse modo a sua liberdade. Todavia, e apesar daquela profunda transformação nas suas vidas, a cotovia continuava a visitar o poço e a insistir na mesma lenga-lenga: que existia um mundo exterior maravilhoso para além daquele. Foi tomada como louca e assassinada. Cristo, enquanto andou por este mundo, assegurava aos gentios  na doutrinação que fazia que havia outro reino para além deste, que era a casa onde residia o Pai.  De acordo com os testemunhos, Cristo declarava convictamente que aquele reino existia e que estava bem dentro de nós, cabendo-nos pois a exigente tarefa de descobri-lo, para nossa paz e salvação. Com a visão de Buda e de outras filosofias orientais, todos nós vivíamos sob o manto de uma grande ilusão criado por Maia e a cumprir a roda do destino - sansara - para podermos atingir a desejada libertação depois de um cortejo infindável de reencarnações. O caminho seria penoso, cheio de sofrimento e de dor, mas o Nirvana compensaria como horizonte de esperança.     
Tudo isto pode ser verdade, sim senhor, mas como todos bem sabemos a realidade não é assim, a realidade é muito mais prosaica e esgota-se numa vida de miséria e de doença, com a morte como epílogo usurpador. Porque não aliviar então o suplício com a maior das criações humanas: a Fé, essa misericordiosa ligadura que cobre e esconde a ignomínia, como diria Freud? Porque não alimentar essa alienação conveniente e de forma cada vez mais sofisticada arriscando um voto acalentador na prodigiosa ciência a ver se ela consegue operar o ansiado milagre ?
Parco de engenho mas com uma curiosidade obsessiva tenho procurado encontrar uma resposta para o mistério, explorando à minha medida e com todas as limitações daí decorrentes as ideias e o manancial de conhecimentos oferecidos pela ciência  para minimizar os danos causados por uma  neguentropia que teima em não me largar.
E, de facto, quando se começa a reflectir sobre matéria tão candente, e mais ainda quando se procura desesperadamente um ponto de contacto entre a ciência e o milagre da transcendência, de imediato  ficamos perante a presença omnipotente da física teórica, pois parece ser ela o veículo mais apropriado para conseguir, nem que por breves instantes, encontrar algum sinal dessa improvável e ilógica conexão  de realidade. 
Ao investigar as profundezas da matéria, para perceber ao certo qual a sua origem e natureza, a física dá-nos um panorama desolador. Na verdade, o cenário gigantesco que se desdobra à nossa frente, bem como o nosso próprio corpo, incluindo nele o aparente mediador da realidade que é o nosso cérebro, são absurdamente constituídos por partículas de coisa nenhuma, simulacros de realidade, sem ligação definida, apenas vazio demencial. Afinal, os tijolos que lá em baixo estruturam aquilo que designamos por real, são tudo menos reais, apenas sombras vibrantes e fantasmáticas sem solidez, massa ou dimensão. Creio mesmo não fugir muito à verdade se disser que o ventre da realidade, o ponto onde tudo isto começa, ou a grande ilusão, como antevia Niels Bohr, é  um abismo negro , um " lugar" de " nonsense "onde também a noção de espaço e de tempo ( do aqui e do acolá, do passado e do futuro ) deixa de fazer sentido.
É, pois, aqui , no cerne desta complexa teia ontológica, onde acreditamos piamente estar a residir em todos os dias da nossa vida, que procuramos alucinadamente a nossa  consciência, o nosso ser.   
Um hino à vida na Matrix  - Vinícius de Moraes e Toquinho
Um velho calção de banho o dia prá vadiar um mar que não tem tamanho um arco íris no ar / Depois da praça Caymi sentir preguiça no corpo e numa esteira de vime beber uma água de côco / É bom... passar uma tarde em Itapoã ao sol que arde em Itapoã ouvindo o mar de Itapoã falar de amor em Itapoã / Enquanto o mar inaugura um verde novinho em folha, argumentar com doçura com uma cachaça de rolha / E com o olhar esquecido no encontro de céu e mar, bem devagar e sentindo a terra toda a rodar / É bom...passar uma tarde em Itapoã ao sol que arde em Itapoã ouvindo o mar de Itapoã falar de amor em Itapoã / Depois sentir o arrepio do vento que a noite trás e o diz-que-diz macio que brota dos coqueirais / E nos espaços serenos sem ontem nem amanhã dormir nos braços morenos da lua de Itapoã / É bom... passar uma tarde em Itapoã... ... ...