domingo, julho 27, 2014

Relatório minoritário

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 " Por detrás do teatro está a vida, mas por trás da vida está novamente o teatro. Eu parti do imagionário e descobri o real, mas por detrás do real está novamente o imaginário ".
Para sobreviver ao cativeiro da existência o ser humano inventa estórias ( histórias ), estórias e mais estórias, verdadeiras ou falsas, tanto faz, porque o que é imperioso é matar o tempo para não perceber a oblívia inevitabilidade - o tempo da alienação. E as estórias são o enredo, os dramas da vida que se desenrolam no grande teatro do mundo, do qual fazemos parte, ou como artistas ou como espectadores , simultaneamente. Umas vezes, impantes e jocosamente deliciados, assistimos de camarote à tragédia dos outros; outras vezes somos nós, infelizmente, protagonistas agoniados de dramas sem remissão, para gáudio de uma plateia ávida de sensações. A ficção é, assim, a fórmula da sobrevivência para não soçobrarmos no turbilhão  da falta de sentido de tudo isto. Por isso nós construímos as nossas cabeças ( as nossas estórias ) à maneira daquele árabe que era fervorosamente crente, jejuava e nunca bebia álcool e cumpria todos os preceitos para alimentar a sua grande ficção, o seu "kit" de sobrevivência. Enfim, a narrativa que dava sentido à realidade. Mas parece que o pobre homem tinha uma fragilidade: a prostituição, que ele justificava alegando que o profeta também tivera cem mulheres. De facto, o temente não cedia na sua verdade mais básica: os instintos. Primeiro aquilo, depois a salvação da alma.
E assim é, na verdade, nós nunca paramos de representar, nem mesmo quando estamos frente ao espelho. Inconscientemente, a persona sobrepõe-se à nossa autenticidade , sendo o reflexo espelhar uma falácia, uma imagem conveniente que construímos para descanso e equilíbrio vital do nosso espírito. Daí que nem sempre seja fácil perceber o que se passa no eterno palco do mundo, que é feito de luz e de sombras, de pessoas de carne e osso e de máscaras, de grandes artistas e de impostores. Mas são tudo faces da mesma moeda. Todos nós somos assim, bipolares, todos nós enfermamos deste inebriante jogo de sombras. Umas vezes expostos em carne viva, outras vezes produzindo verdadeiras obras primas na arte de representar.
Na realidade, a natureza humana sempre foi muito plástica na sua expressividade, e por mais que as neurociências esgravatem em busca do cerne dos nossos pensamentos e da nossa intencionalidade, ele continua inviolável. Nenhum "Relatório minoritário" poderá, pois, devassar os labirintos do nosso legítimo território. Rastrear e vigiar as suas manifestações exteriores, á maneira de um "GPS" ou de um " Google Earth", é possível, como faz a psicologia do comportamento, mas desvendá-lo, nunca.