quarta-feira, maio 02, 2012

A celebração do 24 de Abril

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Por este caminho qualquer dia estamos a assistir a reimplantação  do "ancien régime". A República já não se comemora, e o 1º de Maio e o 25 de Abril, pouco mais faltará.
O dia do trabalhador foi ontem celebrado em Portugal de forma bastante bizarra. Na realidade, e ao arrepio de tudo aquilo que seria expectável, os trabalhadores deste País, esquecendo ou mitigando as suas idiossincráticas queixas, decidiram celebrar este dia festivo numa louca fúria açambarcadora acorrendo em massa aos supermercados Pingo-Doce. Em lugar da grande jornada de luta que desce as avenidas do País para mostrar aos Governos e ao Capital que os trabalhadores estão sempre atentos à defesa dos seus direitos, hoje seriamente ameaçados, o 1º de Maio deste ano transformou-se numa louca correria para conseguir o formidável cachucho, convertendo-se mesmo, em alguns daqueles estabelecimentos, numa autêntica batalha campal com a polícia a intervir. Julgávamos nós que o especial objectivo desta acção era prestar solidariedade aos trabalhadores daquela empresa, uma vez que estes estavam em luta para poderem, também eles, comemorar o 1º de Maio, como manda a constituição, mas não, o motivo foi muito mais prosaico e confirmou cabalmente a estratégia de quem a delineou : o País , afinal, viu-se ontem de repente ao espelho.
Este fenómeno, que varreu o País de lés-a-lés, seria muito estranho se na realidade não estivéssemos  a assistir hoje a uma investida sem precedentes contra as conquistas de Abril e contra os trabalhadores em particular, perpetrada pelas forças que foram derrotadas naquele dia.  Apoiadas por um governo de cariz  neoliberal e fundamentalista, a reacção está novamente a surgir em toda a sua plenitude, beneficiando e executando com deliciosa perversidade todas as medidas políticas que este (seu) governo está a promulgar com o único fito de chegar ao poder e com isso voltar de novo a submeter e a explorar, sem nenhuns entraves legais, os trabalhadores deste País, transformando novamente esta terra  na coutada de umas quantas famílias. 
Como é que pudemos chegar até aqui? Como é que a direita revanchista consegue provocar e humilhar todos os trabalhadores na celebração do seu mais sagrado e simbólico dia ? Como  é que  este poder invisível consegue passar a ideia ( e para isso conta, praticamente, com toda a comunicação social ) de que neste País já vale tudo, que as leis e os direitos dos trabalhadores já não têm importância nenhuma, e que os próprios, tontos e alienados pelas sereias do Capital, também já não se dão ao respeito? Que forças ocultas e poderosas se uniram para conspirar e cobrir o eventual prejuízo do ideológico espectáculo que foi ontem encenado? 
Podemos não comer ideologia, por certo, mas ela ( a outra ), se não nos opusermos, comer-nos-á a nós.
P.S. Compreende-se naturalmente o comportamento das pessoas, e até o frémito, as dificuldades são muitas e a oportunidade não se podia perder. Mas valha-nos, pelo menos, o desabafo.