O Portas de Schrodinger e Portugal a banhos

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Foi uma semana política indescritível. Creio, até, que os jornalistas, críticos e comentadores de todas os matizes acabaram também eles por esgotar todos os adjectivos do léxico para qualificar o que aconteceu. Juízos de valores, princípios éticos , dignidade e outros atributos que respaldam a confiança das relações entre as pessoas, foram seriamente abalados, senão mesmo ridicularizados e postos de quarentena. Vale tudo. Até chegou-se ao ponto, na vertigem dos factos e das agendas políticas, tal como num carrossel, das circunstâncias mudarem a cada minuto. E tudo isto, pasme-se, com a conivência grosseira de um homem que mandou a instituição Presidência da República às urtigas. Mas vejam bem, depois desta triste e indecorosa palhaçada, de tanto barulho e tanta bagunça, afinal, vai tudo continuar na mesma. Ou quase. Mas vai continuar, até quando ?

De facto, para quem assistiu, atónito, ao desenrolar dos acontecimentos , em todos os seus pormenores e detalhes, destacando-se entre os demais a forma como Portas tratou o já célebre conceito "irrevogável" e o princípio ético a ele subjacente, com um volte-face monumental e inenarrável, por certo  ficou com sérias dúvidas sobre a sua própria sanidade mental ou, se de repente, por obra do acaso, não terá entrado numa outra dimensão , uma realidade virtual que não aquela em que até ali tinha vivido. Diz-se, até , que nas aulas de física teórica , para exemplificar com maior clareza e precisão o paradoxo de Erwin Schrodinger, da superposição quântica ( gato vivo, gato morto ), é usado agora o dilema: Portas dentro - Portas fora ( no Governo, claro ). 

Na verdade, com esta  overdose de acontecimentos e com tanta informação cruzada , ficámos esgotados e inquietos. Dizia alguém com muita propriedade a este propósito : " imagine que , quando olha para o céu, vê nuvens de tempestade como nunca viu antes, sente uma chuva densa e oleosa a cair-lhe em cima , é invadido pelo calafrio da catástrofe iminente. Mas, ao que tudo indica,  também parece ser o único a ver as nuvens, a sentir a chuva à sua volta. Porque a vida lá fora continua como dantes, o céu com um sol radioso e ninguém a importar-se com nada. Será que você está bem ? Não serão essas visões verdadeiros distúrbios psiquiátricos ?      

Porém, descansemos as nossas almas, porque o povo está sereno e atento e não vai com certeza deixar de reagir a todos os acontecimentos que ponham em causa  o seu futuro . Como todos pudemos constatar nos noticiários televisivos, a garotada que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas ensaiaram , não ficou sem resposta, o País veio todo para a rua mostrar a sua indignação.