sexta-feira, agosto 29, 2014

Cromoterapia

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Era um branco tão negro ou mais ainda que os próprios. Queria sentir e partilhar a vulnerabilidade daquela involuntária condição, e não a perceber através do filtro deformador da moldura branca. Foi preso, antes da independência, por ter uma alma negra, e assassinado depois dela, por ser branco. 

quinta-feira, agosto 28, 2014

Wolfgang Schäuble , o Kaiser

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Schäuble põe água na fervura. Draghi foi mal interpretado...

domingo, agosto 24, 2014

Tou, chim?

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As pessoas foram de tal forma inundadas com tanta bugiganga electrónica que o fenómeno pensar já só se encontra em raras cabeças. Hoje as pessoas limitam-se apenas a vocalizar alguns monossílabos. O acto de puxar pelos neurónios, coisa que até aqui parecia ser uma condição absolutamente essencial e genuína da natureza humana, passou a ser um bem altamente precioso e volátil.
Porém, há quem advogue antes que o homem está a viver mais uma etapa do seu já longo processo de hominização, preparando-se indubitavelmente para  o próximo estádio futurista, bem ilustrado na ficção, que se traduz na ideia da simbiose do carbono com o silício. Neste entrecho, grande parte dos jovens de hoje já estão a dar os primeiros passos na fórmula de pensar com grupos de conceitos de superior elaboração ( algoritmos sofisticados ) e a produzir, em termos de lógica, como que uma segunda geração de categorias do entendimento que lhes permite operar a realidade de uma forma mais inteligente e rápida. São uma espécie de hieróglifos metáfora, que facilitam a percepção e o raciocínio, para dar resposta urgente a um presente cada vez mais acelerado e em contínua transformação.

sábado, agosto 23, 2014

Corrida ao dólar perante maior risco geopolítico

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" A divisa norte-americana beneficia da tensão na Ucrânia e da possibilidade de Obama autorizar ataques aéreos na Síria. O agravamento do risco geopolítico aumentou a procura por dólares norte-americanos, um tradicional activo de refúgio. O euro desvaloriza pela quarta vez ."

sexta-feira, agosto 22, 2014

Abutres

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A notícia,  tal como muitas outras que têm saído do mesmo teor nos últimos tempos, era esta:
"CMVM investiga eventual abuso de informação privilegiada na OPA da Ángeles.
Está em causa a compra de acções pelo grupo Ángeles, por dois dos seus administradores, um mês antes do lançamento da OPA.
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) está a avaliar a possibilidade de ter existido abuso de informação privilegiada – compra de acções com conhecimento de informação que não foi tornada pública e que pode influenciar o seu preço - na Oferta Pública de Aquisição (OPA) à Espírito Santo Saúde." 

Eles até podem dizer tudo, mas não dizem nada. Acreditem. O que na verdade é preciso saber, é o que eles não dizem, aquilo que fica sub-entendido, nas entrelinhas, o segredo. Nós sabemos que eles inventam coisas para não terem de revelar o que de facto está a acontecer, o que de facto lhes vai na alma - na alma do negócio, diga-se em abono da verdade. E nós sabemos também que por detrás de cada história de sucesso existe uma trama de mentiras e traições, de corrupção moral e material. Mas acreditávamos no poder corrector e regenerador das instituições. Até hoje.

Dizia Vasco Pulido valente que somos uma Nação arruinada, mergulhada numa impotência atávica, sem futuro nem redenção. Portugal é na realidade um País muito bonito, mas miserável, tragicamente miserável.
De facto, eu e tu, tal como a maioria dos portugueses, nunca tivemos dinheiro, nunca conseguimos ter nada, nem a segurança de um pequeno pecúlio, que fosse, e levámos uma vida de cão a trabalhar. Para onde foi o dinheiro que ajudámos a acumular? Quem ficou com o valor?

quarta-feira, agosto 20, 2014

Senescência

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Para a grande maioria dos idosos que continua a resistir à inevitabilidade, está-lhes reservada uma espécie de morte social . Decorrente do isolamento provocado pela partida dos seus amigos e familiares mais próximos, esta gente já não têm muito com quem conversar para desfiar memórias da vida, ficando por isso praticamente desapossada do exercício da convivialidade.

Este afastamento da vida activa, que se produz naturalmente em razão da idade mas também das naturais consequências da sucessão de gerações, com  novos padrões de vida, formas de estar e de ser diferentes, aliado ainda à perda evidente dos atributos participativos,  do espírito de iniciativa  e de objectivos de vida, vai afastar irremediavelmente a geração paterna da boca de cena. Depois de terem acabado a tarefa para o qual foram concebidos e de passarem o testemunho à geração seguinte, parece não haver mais nada para preencher o grande vazio em que se tornou as suas vidas. E esta perda progressiva dos referentes, postula normalmente um fim próximo.  Excepção feita, claro está, a uma pequena franja, que ainda vai conservando algumas amarras ao mainstream, mantendo-se assim activa na dinâmica do mundo. 

quinta-feira, agosto 14, 2014

Parque infantil

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Considerávamos ser a geração perfeita e estávamos convencidos de que íamos mudar o mundo. Era a utopia feita vontade. Havia os Beatles e as canções de intervenção, mais o "Hippies" e o "Che". E, assim,  em tons de arco-íris, como nos filmes, íamos fazendo alegremente a revolução nos cafés.

Crazy season

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"Ir de férias para o Algarve era o épico sazonal. Um dia quase inteiro de viagem, Alentejo abaixo, a começar de madrugada, carro atulhado,searas de um lado e outro, tudo a ferver, até começarmos a sentir o cheiro inebriante a maresia."

terça-feira, agosto 12, 2014

Gaza

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 Muito poderia ser dito acerca do conflito em Gaza e, em geral, sobre o holocausto que lenta mas insidiosamente se vai materializando em todo o Médio Oriente. Mas já foi tudo dito e redito, analisado  e escrutinado até às últimas consequências. Apenas a resposta continua, infelizmente, a ser a mesma, como todos sabemos : é uma guerra entre os homens, mas também entre os deuses

segunda-feira, agosto 11, 2014

Expirou o prazo de validade

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" Acabou o meu prazo de validade. Na minha idade já se começa a ficar surpreendido quando chegamos à próxima primavera."

Quando atingimos a idade maior e a apoptose começa a reclamar os seus direitos , ficamos deveras admirados quando conseguimos vencer mais um ano de vida. Nessa altura já nem prognósticos se fazem, deixamos correr o marfim, como sempre, na esperança de que o dia seguinte não traga alguma ideia louca. E apesar de já ter passado tanta água debaixo da ponte, continuamos , no entanto, atónitos a olhar horrorizados para a velhaca sempre que ela se apresenta nas imediações. E também não vale a pena modelar o nosso discurso pelo lado do politicamente correcto, tentando ostentar com isso, através de umas quantas banalidades de serviço, uma saga que não combina com a nossa medrosa personalidade ou natureza. Porque quando somos verdadeiramente agarrados, lá se vão as peneiras todas. Aí, entre a desventura do vómito, consequência da quimioterapia, ou os ataques de apneia violenta ,que antecedem a paragem cardio-respiratória, chegamos à nossa verdadeira dimensão. Depois que venha o diabo e escolha.

sábado, agosto 09, 2014

A fórmula da felicidade

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Uma das notícias interessantes insertas esta manhã num dos jornais da nossa praça era titulada desta maneira:  Será que existe uma fórmula da felicidade?


"Investigadores ingleses criaram uma equação que dizem ser a fórmula para a felicidade.

Um grupo de investigadores da University College London publicou um estudo ('Proceedings of the National Academy of Sciences'), através do qual garante ter encontrado uma fórmula que explica como atingir a felicidade. Para o estudo, os investigadores utilizaram um primeiro grupo, de 26 participantes, aos quais foram feitos testes em que tinham de tomar decisões que estavam relacionadas com ganho ou perda de dinheiro. Durante os testes, a atividade cerebral estava a ser monitorizada e os cientistas faziam uma pergunta: “Quão feliz está agora?”. Depois de observadas as respostas e de analisados os dados, os investigadores criaram um modelo que ligava as respostas aos ganhos e às expetativas dos primeiros participantes e produziram um jogo, o ‘The Great Brain Experience’. O modelo foi depois testado em 18 mil pessoas. Após a recolha dos dados, os cientistas concluíram que a equação gerada pela análise do primeiro grupo estava correta e correspondia também ao grupo das 18 mil pessoas, conseguindo, assim, prever a felicidade dos jogadores. A principal conclusão a que os investigadores chegaram é que as pessoas se sentem felizes ao ganhar, mas as expetativas influenciam mais do que se imaginava. Matematicamente, quanto menos expetativas tiver mais dificilmente fica desapontado. Mas se conseguir atingir as expetativas mais altas também será mais fácil atingir a felicidade. De acordo com o estudo, estas conclusões podem ser essenciais na hora de analisar as pessoas que sofrem de alterações de humor. Fórmula da felicidade criada por investigadores da University College London."


Mas o que de mais relevante mostra este estudo, muito embora esta parte, que é o capítulo mais significativa do trabalho, não tenha sido patenteada na declaração que passou para a imprensa, talvez para não  retirar o brilho faústico e o impacto que encerra a investigação, pelo menos para os muitos aprendizes de feiticeiro que pululam neste mundo, é que depois de atingido quase o pico máximo da felicidade, o climax apenas acontece quando o jogador, numa postura absolutamente contraditória com o desejo até aí evidenciado e que nos remete para a clarividência orientalista do budismo, renuncia a todos os seus bens terrenos, ficando sem nada,  e parte numa viagem iniciática rumo a  Kathmandu.

quinta-feira, agosto 07, 2014

Se penso, logo desisto

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A propósito de uma notícia dada à estampa há poucos dias nos mídia sobre uma investigação levada a efeito por cientistas do departamento de Psicologia da Universidade de Virgínia relativamente ao acto de pensar, que oneraria a nossa tranquilidade e tendência natural para a inércia, """penso o seguinte""":

O corpo não precisa da mente para sobreviver, tal como não precisam dele as outras espécies . Na verdade, e em diferentes graus de adaptação e de especialização sobre o meio, com mais  ou menos desenvolvimento dos níveis superiores de integração de estímulos sensoriais e de eferências motoras ou com maior ou menor capacidade para gerar níveis de subjectivação, os seres vivos acabam por dar as respostas mais adequadas à sua efectiva existência e de se conduzirem de acordo apenas com o plano genésico das suas necessidades básicas: alimentação , procriação e segurança - e para fazer isso o homem não carece de mais ferramentas , para além daquelas que todas as outras espécies possuem e usam e que estão consignadas no manual de instruções genéticas do ácido desoxirribonucleico (ADN ). Ou seja: o programa.

Então para que serve a mente ? Ou melhor, aonde é que eu me situo no meio deste (des)concerto? Aonde é que eu sou, ou existo? 

Argumenta-se muitas vezes que a evolução teve como eixo central de desenvolvimento o factor cerebração crescente. Parece que a vida progrediu com o único objectivo de produzir um ser capaz de se ultrapassar a si próprio afastando-se das amarras naturais. Se por um lado a mente, ou a consciência, é considerado o fenómeno mais alucinante que alguma vez aconteceu na Biologia, com repercussões dramáticas na Biosfera, que todos conhecemos, nomeadamente na destruição significativa da paisagem - o Eden natural - e na alteração profunda que está a provocar no equilíbrio regenerador do planeta, por outro lado, a sua inigualável capacidade de subjectivação e engenho parecem comportar todos os ingredientes para um dia operar o prodígio de transcender-se, superando a sua condição material, "cumprindo assim o desígnio para o qual possa ter sido concebida". 

Mas como tentam provar alguns especialistas na área da Etiologia, a mente  parece ser mais uma excrescência absolutamente dispensável do que outra coisa qualquer mais taumatúrgica. E no que respeita à sua fantástica especialização, parece que ela não passa de uma espécie de tropismo gongórico, muito embora o  grau  de sofisticação atingindo. E, claro está, que a sentença sobre a sua indispensável importância seja ela própria produzida e advogada em causa própria, ou seja, a mente a defender-se a ela própria. 

Para confirmar este pressuposto, basta lembrar que as primeiras integrações de matéria viva atingiram a sua maturidade funcional apenas através de sistemas físico-químicos de correlação orgânica, não precisando, de todo, da existência de um sistema nervoso para se conduzirem na vida e de se possuírem a si próprias como seres independentes. Podemos replicar, no entanto, que existem graus , numa escala gradativa de níveis de aperfeiçoamento vital, tal como falava Aristóteles quando se referia às vidas vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas de facto o substracto é o mesmo. 

Por exemplo, o comportamento e a forma como se conduz na vida um executivo da Big Apple, com formação académica superior e um elevado nível de sofisticação cultural, acaba por ser  do mesmo tipo da de um aborígene animista e analfabeto da Nova Guiné, se levarmos em consideração a satisfação do programa básico das necessidades humanas. Não importa, então, o cenário e as camadas de verniz "civilizacional" que carregam dentro de si, porque o que é mais importante é a forma homeostática como cada um resolve a sua vida ( mais equilibrada ou menos equilibrada; mais feliz ou menos feliz ). Enfim, o sistema nervoso ( a mente ) não é mais do que a especialização do protoplasma a cumprir todas as funções vitais necessárias ao exercício da  sobrevivência.

Portanto, a mente, ou melhor, o acto de pensar, para além de ser um epifenómeno que não vem acrescentar aparentemente nada ao devir biológico, quanto ao modo de sobrevivência, é sobretudo um factor de embasamento e de extenuação, porque condena o homem a esforçar-se toda a vez que tiver de dar um passo na vida . Pensar cansa, pois. Ao contrário dos animais, que têm a resposta mais ou menos programada e sempre pronta a aplicar em cada momento, por intermédio do arsenal dos instintos, o ser humano é obrigado a dar voltas ao córtex para resolver qualquer tipo de problema. Para além, obviamente, da condenação imposta de forma inquisitorial pela corrente da consciência que nos obriga involuntária e permanentemente a pensar. Que destino! 

Por último, saber aonde é que eu sou ou existo, depende do ponto de vista em que nos colocamos. Para os etiologistas, por exemplo e como se percebe, o ser que se interroga não tem validade em matéria de sobrevivência, é uma pura aberração. Logo: eu não sou. Já o solipsismo, como corrente especulativa radical no campo do idealismo, assegura de forma determinada que apenas a mente existe, sendo o corpo e a realidade um espectáculo feérico para introduzir pregnância a nossa vacuidade. Logo: eu sou tudo.

Woman

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Foram casados 62 anos e sempre juntos, inseparáveis, nos melhores e nos piores momentos da vida; ela enternecida, velando por ele, e ele, apaixonado, protegendo-a do mundo. Quis o destino que morressem de mãos dadas, tal como parece terem vivido. O casal Don e Maxine Simpson morreram no mesmo dia com apenas quatro horas de diferença. Ambos acamados , no mesmo quarto de sempre, viveram os últimos dias das suas vidas ao lado um do outro, umas vezes desfiando memórias, outras vezes silenciando a dor da separação inevitável. Ela morreu vítima de cancro, e ele, que estava imobilizado por ter fracturado a anca, não aguentou o desgosto de a ver partir e seguiu a luz dos seus olhos.