terça-feira, novembro 29, 2011

Reprise II

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Nietzsche anunciou a morte de Deus; Darwin destruiu o mito do Homem; Freud matou abusivamente o Pai, e agora, ao que parece, os neurocientistas assassinaram indevidamente a Mãe.
Machine

O drama maior com que os neurocientistas se confrontaram até hoje ( e que jamais poderiam imaginar ) foi o de terem constatado que as suas próprias mães ( à semelhança de todas as mães da humanidade ) nunca gostaram dos filhos . Esta descoberta , que encerra em si todos os condimentos de uma autêntica tragédia grega, foi realizada nos laboratórios do instituto J.Craig Venter. A experiência, que foi conduzida pelos investigadores daquele instituto, veio claramente demonstrar que os afectos, tal como o restante cortejo de sentimentos, emoções e pensamentos estão indissociavelmente ligados à sede egoísta dos nossos instintos. Por isso, foi um tremendo choque para os nossos cientistas terem percebido que até o gesto mais desprendido e de amor sublime revelado por uma mãe que sacrifica a sua própria vida para salvar a do filho não é mais do que o resultado da presença implacável do seu "proto-egoísmo ".
Na verdade, para aliviar a pressão homeostática vital, ou equilíbrio psico-funcional, que é experimentado numa situação limite como esta, uma mãe morreria ( aparentemente ) pelo seu filho, para não ter que sentir e enfrentar a dor horrível ( se não morresse ) da sua perda. Neste sentido, ela não morreria por ele , mas sim indubitavelmente por ela, ou seja: pelo seu egoísmo . Teremos no entanto que realçar que estes processos genésicos não são percebidos conscientemente.
Assim, arranjar argumentos, doutrinas ou teorias que pretendam rebater esta ontogénica condição da natureza humana, é tarefa impossível. Não há como violar as suas leis. Tentar semanticamente induzir o contrário, é também reincidir na abusiva perspectiva da sua transcendência.

quarta-feira, novembro 23, 2011

Reprise


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Em busca do Sagrado, ou a viagem fantástica à toca da Alice




Quando a juventude já se transformou num sonho longínquo e o homem aproxima-se tragicamente do seu destino fatal, é quando lhe são revelados e ministrados os Sonhos Santos... Até então, até chegar a esse patamar da verdade nua e crua, ele nunca acreditou na"mentira", nem tão pouco esboçou qualquer gesto de preocupação para compreender quão séria era a sua inevitabilidade. À maneira do herói da banda desenhada , que morre mil vezes mas fica sempre de pé, ele comia,dormia e ia dizendo as cavalidades protocolares do costume sem cuidar do futuro. O seu Ser seria eterno, as maleitas, naturalmente estigma dos outros, e as misérias e tragédias que atingem o quotidiano, afastadas para a periferia da sua sensibilidade. Como poderia ele dar alguma importância a tão repugnante e insignificante acto ?
Devemos reconhecer, no entanto, que o homem desde muito cedo se viu confrontado com o grande mistério da morte : o desaparecimento de um ente querido ou uma outra emergência dramática da vida, desencadeavam logo nele uma torrente de emoções que o marcavam, reconduzindo-o indefeso ao redil atávico das suas perplexidades. Mas a ladainha da vida, uma lengalenga hipnótica que é garantia da realidade conveniente, logo se encarrega de mascarar a brusca rotura perpetrada pela "facínora" com o sentimento tranquilizante de uma jovialidade eterna, às vezes padecida, mas sempre cheia de benesses e de aleluias.
Só que o temp(l)o da remissão chegará inexoravelmente e o Homem terá então de prestar contas ao caderno reivindicativo do terror, da náusea e da angústia dos aflitos.
A morte não poderá ser vencida, com certeza, mas o ser humano protestará com toda a sua energia irreprimida e contra ela travará a sua maior batalha - não nos podemos esquecer que foi à conta do efeito desta recusa que a humanidade erigiu uma civilização e uma cultura, que é um modo muito humano de transcender a sua mortalidade .
Então, se a verdade da vida é a morte, será preferível mil vezes a ilusão da religião. Mas se Deus falhar, apenas nos resta acordar ( bem-aventurados os pobres de espírito porque só eles ganharão o Reino dos Céus ).


Porque será que a natureza humana  se realiza sempre neste cenário hediondo feito de sofrimento e aflição, de muito choro e de tantas lágrimas e onde jorra sempre muito sangue e fedem tantas pústulas?
Felizmente ( ou infelizmente ) parece que o homem foi dotado de uma consciência para ( puro paradoxo ) se dar conta do espectáculo absurdo da sua própria existência. A inquietação e o desespero constante que resulta do simples facto de sobreviver, a falta de sentido da própria vida e o pânico da morte são o lastro em que assenta a maior parte da sua verdade. Foi por isso que muitos de nós ( tal como dizia convictamente o velho racionalista ) fomos forçados a ser dependentes da loucura para não ter de suportar a dor da infâmia, para não sentir que éramos unicamente cadáveres adiados que procriam.
Quer queiramos ou não, estamos reféns de uma metafísica fundamental que se instalou na aurora dos tempos quando a consciência foi desperta do seu sono letárgico para se instalar na Realidade. Este proto-acontecimento, um salto brusco e mágico que emergiu do oceano primitivo dos instintos ( e que inevitavelmente se repete em cada nascimento ), custou-nos a vida.
Mas não desanime, tranquilize-se e descontraia-se, respire fundo e acomode-se dentro de si, porque vai ouvir a " palavra "


(...) Ensinaram-nos a pensar na base de um conjunto de hábitos e de crenças que ignora o verdadeiro mistério. Qualquer neurologista poderá garantir-nos que o cérebro não fornece qualquer prova sobre a realidade do mundo exterior . Com efeito, tudo o que o cérebro faz é receber sinais contínuos sobre o estado do corpo, em termos de equilíbrio químico, temperatura, consumo de oxigénio, juntamente com uma corrente crepitante de impulsos nervosos. O cérebro não nos informa deste infinito processamento de dados , que é tudo o que verdadeiramente está a acontecer dentro dele. Em vez disso, o cérebro , como num sonho, fala-nos de um mundo de imagens, de sons, de sabores, de cheiros e de texturas, como se de um acto do mais elaborado ilusionismo se tratasse, uma grande partida, uma vez que não existe uma ligação compreensível e lógica entre os sinais eléctricos processados e a sensação subjectiva que temos de um mundo exterior . Estou, por exemplo , a criar uma árvore, um rosto ou o céu, a partir do que objectivamente é um emaranhado aleatório de nervos compridos e finos, que soltam impulsos químicos e correntes eléctricas, e, por mais que tente, não consigo encontrar nesta tempestade electroquímica a forma de um rosto ou de uma árvore, ou outra forma qualquer. A única razão para conseguir "ver" os objectos , é o meu cérebro registar uma rajada de sinais eléctricos como visão ( não há luz do sol dentro do meu cérebro, cujo interior é escuro como uma caverna ) ; a única razão porque as rochas são sólidas, é o meu cérebro registar outra rajada de sinais eléctricos como tacto, etc.(...)


De uma forma mais radical ainda, podemos admitir que o conhecimento ou a consciência que tenho ( ou que julgo ter ? ) de que possuo um cérebro que capta e processa dados que se encontram sob a alçada do chamado ( muito prosaicamente ) mundo material, como as soluções químicas e as correntes eléctricas, que se "convertem" depois na realidade que percebemos, não é garantia , em absoluto, da sua própria existência. Será que vivemos um sonho dentro de outro sonho ?
que há de mais subversivo nesta espécie de simulacro que se auto-denomina de "ser



humano", é a sua despudorada convicção para se inventar a si próprio e de inventar uma
realidade que se lhe antepõe, ou seja, a de julgar perceber padrões e regularidades ( em coisa nenhuma )  e com isso produzir significado, instaurar sentido e estabelecer uma ordem . Em suma: à maneira do big-bang, este artefacto constitui-se como uma entidade (com todo o peso específico que isso comporta) que promulga a sua própria existência e que admite, numa pulsão dionisíaca final, a sua própria e sagrada transcendência .
O nosso cérebro é um dispositivo mental que permite juntar, representar e utilizar informação que nos chega não se sabe de onde, sob a forma de uma pretensa realidade, que designamos, em última instância, por energia, que também não se sabe muito bem o que é, como é e qual a sua origem ( essencialismo ).
Loucura, meta-aberração, ou tão somente as consequências dos espaços de liberdade que vão sendo franqueados e proclamados pelas especulações mais arrojadas da ciência de ponta.


Depois de uma dose amplificada de confusão , também eu reconheço que a pancada poderá ter sido muito forte. Concedo até que estarei (por ventura) a sofrer as consequências sempre inusitadas de um qualquer " delirium tremens. Ou será que este rol de pseudo-ideias não é mais do que o resultado sempre nefasto de umas quantas teias de aranha especulativas que foram encarniçadas pela frustração de uma mente que estará à beira de um ataque de nervos ?
A realidade , afinal, é esta , a que está bem aqui , mesmo à nossa frente, nua e crua, preto no branco, bastará apenas abrir os olhos e acordar. Até porque já se vai fazendo tarde e o notário está à nossa espera para selar o testamento.
Com a breca!, basta de simulações e de manipulações , será que não vemos que estamos a ser dominados e alienados por uma crença ridícula ? Diz quem sabe que a fé , essa venda magnífica e a mais inteligente criação do imaginário humano, um opiáceo muito forte que visa aplacar o horror que irrompe das nossas entranhas, não passa de pura abjecção mental.
Por consequência, acreditar que a " poeira electrónica" ou umas fantasmagorias denominadas por flutuações quânticas ( e quejandos ) poderão ser o caminho para a salvação, será de todo empreender uma viagem regressiva ao paraíso da infância onde nada de mal nos poderá acontecer, pois aí estaremos protegidos pelo todo poderoso útero materno. Acreditar que a realidade não passa de um sonho e que a materialidade do mundo é uma insidiosa abstracção, é cometer uma deplorável imprevidência - atira tu a cabeça com força contra a parede e verás quão delicada é a óbvia realidade. A dor será enorme e a tua singela cabeça não ficará, com certeza, em muito bom estado.
Mas , atenção! A dor só existe para que a ilusão se torne mais credível e melhor sucedida nos seus truques.
Em que ficamos então?

Afinal, o que é a realidade ?
Para tentares saber o que ela é, terás de saltar para dentro do espelho e ousar fazer o caminho da Alice. A toca do coelho é funda e labirinticamente bem funda , e aquilo que verás ( se quiseres ver ) talvez te aconchegue o anseio. Mas se fores militantemente céptico ou sarcasticamente racionalista, lembra-te que o único visado serás sempre tu, porque infelizmente os outros não existem , porque a vida , como acto puro, é o lúcido assumir da solidão intrínseca. No final, quando estiveres a jazer no leito do sofrimento e da morte, já bem longe do conforto e dos afectos, verás comprovada esta dura verdade. Estamos sós e sós morreremos ( o homem e a sua circunstância ).
Mas voltando à toca da Alice.
E se a realidade que encontrares for de tal forma desconcertante que a não  consigas facilmente enquadrar no teu esquema lógico de raciocínio; como , por exemplo, perceberes que o teu corpo é tão-somente um padrão de energia e a tua mente um padrão de informação , ou vice-versa .
As nossas mentes geram e organizam o que denominamos por Real. Esta faculdade caracterizante e quantificadora que nos anima, e que mitologiza esse imaginário virtual, captado e percebido por nós como sólidos fenómenos , acaba assim por estabelecer e outorgar o cenário em que a nossa vida se vai desenrolar.

Significar ou dar sentido ao real, implica ordenar, encontrar regularidades, factores comuns e recorrências simples no interior de um sonho, que é este o que vivemos.
Codificamos e armazenamos as experiências vividas através de compressores algorítmicos, designadas por categorias universais do entendimento, que a mente utiliza para simplificar a captura da surreal realidade. Estas ferramentas da mente, funcionando como filtros que se impõem aos dados perceptivos adquiridos do mundo "exterior", desenvolveram-se para nos ajudar a melhorar a nossa adaptação à "realidade"
. Por isso, qualquer criatura que pense que "aqui" é o mesmo que "acolá", ou que não consiga distinguir um "antes" de um "depois"; ou, ainda, que não seja capaz de reconhecer ou de separar a "causa" do "efeito", terá uma probalidade zero de existir. Ou seja, de comer, de andar, de dormir, etc. De sobreviver, em suma.
Quem terá sido o demiurgo que implantou este alfabeto de realidade, estes padrões de constância ( e afinal, de permanente mudança ) que nos levam a acreditar no cenário e na omnisciência do seu autor? Ou será que a grande ilusão , aquela que espantosamente determina tudo não é mais do que o omnipresente e imediato " Eu ", esta noção básica e paradoxal de admitir que "somos" e que "existimos" ? afinal, ver através de tudo parece deixar-nos a olhar para o nada.
Será então o real constituído por uma profusão de signos virtuais ( bits de informação ) que são hipnoticamente adivinhados por um simulacro em autogestão, como se fosse uma projecção hologramática ? Ou será a realidade um exercício metafórico de uma semântica sagrada que nos foi sonegada logo após a queda ? Uma tremenda evidência é o que é a realidade!



Quando madruguei na vida , Merlin ordenou : "vê". De imediato a tela iluminou-se e o filme começou a correr. Quando eu era criança, lembro-me de Merlin dizer: "come". Quando cresci um pouco mais , ele disse-me:"anda". E se ficava acordado, ele dizia-me:"dorme". Se bem me lembro, tenho comido, andado e dormido desde então. Tudo isto são , na verdade, feitiços muito poderosos que certamente Niels Bohr e Werner Heisenberg não teriam qualquer pejo em admitir de bom grado.

Tentando desconstruir o paradigma determinista da realidade.
Como seria a realidade se o nosso centro de comando e controlo conseguisse captar todos os pedacinhos de informação possível, todas as minúcias provenientes dos arranjos atómicos, ou até mesmo deitar um "olhar" sobre o vazio das partículas virtuais ? Numa primeira aproximação, ainda que difusa , feita sobre essa terra de ninguém, esse lugar fantástico e paradigmático onde se produz o tijolo básico que ( multiplicado por ziliões de vezes ) cria a realidade, que poderíamos observar?
(...) Olhe , por exemplo, para a sua mão e observe-a detidamente. Siga as suas linhas e sulcos tão familiares, sinta a textura da sua pele, a carne elástica que protege o osso. Esta é a sua mão que os seus sentidos lhe descrevem, um objecto material composto de carne e de sangue. Agora imagine que está a observar a sua mão através de um microscópio muito potente, cujas lentes são capazes de penetrar nos mais finos tecidos da matéria e da energia, o que vemos ? Onde à instantes se podia ver uma pele suave, vemos agora uma colecção de células individuais frouxamente ligadas por um tecido conjuntivo. Cada célula é um repositório aquoso de proteínas, que aparecem como longas correntes de moléculas menores, mantidas juntas por laços invisíveis. Aproximando-nos mais , podemos ver agora os átomos separados de Hidrogénio, Carbono e Oxigénio, e assim por diante. Átomos que não têm qualquer solidez, são antes sombras vibrantes e fantasmáticas, retalhos de luz e escuridão
Neste momento, atingimos a fronteira entre a matéria e a energia. As partículas subatómicas que compões cada átomo ( electrões a turbilhonar em torno de um núcleo de protões e neutrões ) não são pontos minúsculos de matéria, são mais como traços de luz deixados por fogo-de-artifício numa noite escura . A este nível, você observa que todas as coisas que um dia tomou como sólidas não passam de rastos de energia. No instante em que vê um rasto, a energia deslocou-se para outro sítio, não deixando nada de substancial para ser tocado ou visto. Cada trilho é um evento quântico, efémero, que morre assim que é notado.


Comece agora a aprofundar ainda mais o espaço quântico. Toda a luz desaparece, substituída por negros abismos. Muito ao longe, no horizonte da sua visão , vê um último clarão, como a estrela mais distante e menos visível no céu. Mantenha esse clarão na mente, pois é o último resquício de matéria ou energia detectável por qualquer instrumento científico. A escuridão vai-se fechando e você chegou a um sítio onde não só a matéria e a energia desaparecem, como também o espaço e o tempo. Você deixou para trás a sua mão , entendida como um objecto concreto, como um evento espaço-tempo . Nesta região, não há coisas como "antes" ou "depois", nenhum conceito de "grande" ou "pequeno". Aqui, a sua mão existe antes do início do Mundo e após o fim dele. Na verdade, estes termos deixam de ter sentido, pois você atingiu o útero do Universo, a região pré-quantum, que não tem dimensões e tem todas as dimensões. Você está em toda a parte e em parte nenhuma.
Terá a sua mão deixado de existir? Não, pois ao cruzar a fronteira da quarta dimensão você não chegou a sítio algum. Toda a noção de lugar e de tempo simplesmente não se aplicam mais . No entanto, todos os níveis mais grosseiros de percepção ainda estão disponíveis. A sua mão ainda existe ( como não poderia deixar de ser ) em todos esses níveis que acabou de atravessar - quantum, subatómico,atómico,molecular e celular , ligada por uma inteligência invisível ao lugar onde você se encontra agora . Cada nível é uma camada de transformação completamente diferente da que está acima ou abaixo, mas somente aqui, onde nada há senão pura informação, ideia e potencial criativo, todos os níveis são reduzidos à sua origem comum(...).


Esta é , afinal, por mais absurda que seja, a toca do coelho, a realidade em que todos estamos mergulhados . Ou melhor, esta é , como denuncia deliciosamente o Solipsismo, a minha e apenas a minha realidade, a "residência" onde me encontro todos os dias , em todos os dias daquilo que parece ser a minha vida. Tudo o mais não passará de um sonho, captado e percebido no reverso . Em suma, sou, por ventura, protagonista ( ou realizador ? ) de um filme que teimosa e paradoxalmente tento decifrar. E se a morte mora aqui, no lugar de nenhures, um lugar de ninguém, povoado apenas por um simulacro de sentimentos e emoções, sem qualquer atributo ou efeito físico que se manifeste, como poderá a morte fazer sentido ? "Vivemos" , assim, num plano muito especial, percebido unicamente como informação - o lugar do espírito, o paraíso que desde sempre e tão eloquentemente foi proclamado pelas religiões.



"Eu não lhe perguntei se acredita no que os homens pensam e dizem a respeito de Deus. Eu perguntei-lhe simplesmente se acredita em Deus."

segunda-feira, novembro 14, 2011

O absurdo da existência humana

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Hiper-realidade

- Pai, porque me abandonaste!?...
- Pai, porque me fizeste isto? "Eu" estava " lá " tão bem. Não era nada. Não era, pura e simplesmente. Não vivia, é certo, mas também não sofria. Não viria a sofrer . Não morreria.
- Pai , p
orque me mataste
, porque me obrigaste a nascer para depois morrer ?
- Pai, "eu" estava " lá " tão bem...

Quantas e quantas vezes somos despachados para a câmara da tortura porque a culpa e os remorsos nos dilaceram a alma. Uma dor que não acalma e que não tem sossego, um castigo que não admite perdão nem redenção. Até que ponto o ser senciente que somos experimenta a náusea do desespero e a impotência quando por lucidez ousamos vislumbrar ao longe a óbvia agonia que um dia ditará a sorte dos nossos filhos ? Como foi possível indultarem os pais deste Mundo depois de eles terem cometido o crime mais hediondo que existe à face da Terra: o infanticídio consentido. Não saberiam eles que por cada baboso e egoísta acto de nascimento se estava a praticar um acto de verdadeira barbárie ? Como é que tiveram a coragem de nem pensarem por um instante na tragédia que se iria abater sobre as suas crianças, do sofrimento atroz porque iriam passar e do pânico que sentiriam quando desgraçadamente estiverem próximos da desintegração final? Não, era tudo muito bonitinho e encantador, azul ou rosa , conforme a preferência : vestidinhos e quartinhos, planos e carreiras , e tudo muito bem destinado para nossa eterna glória e egoísta satisfação ( " vejam só, este é o meu filho varão!" ). Mas então, e elas, as vítimas, o que lhes poderá dar guarida e consolo no momento da vil e trágica clarividência ? Uns salpicos de água-benta ou o aconchego de um livro de auto-ajuda ? Uma mística e resignante proposta kármica ou a sugestão sempre apelativa de uma carta de alforria enviada pela mais esotérica manifestação da Cosmologia Quântica ? Não, nada poderá aplacar a ira dos deuses que clamam por sacrifício, nada nem ninguém poderá valer-lhes. Apenas a capacidade que cada um revelar, interiormente, para resistir à desistência.
Creio ter sido Saramago que disse um dia que a morte era mais ou menos assim: " Ele estava aqui connosco e a partir de agora nunca mais estará ".

sábado, novembro 12, 2011

Oratório

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" O oratório é um móvel que se destinava nas casas burguesas de outrora à piedade familiar e individual. Ornado com imagens esculpidas e pintadas de santos, materializava no espaço doméstico a ligação ao divino."


sexta-feira, novembro 11, 2011

A prova do coveiro

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O enterra

O exemplo
Que bom seria se estas singulares criaturas viessem um dia a fazer um verdadeiro acto de contrição pelas malfeitorias que andam a fazer ao povo português. Na verdade, se eles fossem realmente autênticos governantes, daqueles que a História registará para todo o sempre, como gente eticamente responsável , deveriam antes devotar-se à Causa Pública da pobreza, que é como a maioria dos portugueses vive, abdicando do seu estilo de vida ( bem nutrido) e passar solidariamente a viver como a maior parte da população: um ordenado mínimo nacional, sem direito a ajudas ou outras regalias; levantar-se às 6 horas da manhã e apanhar um transporte público, apinhado de gente, para ir trabalhar , viver numa casa sem as necessárias condições de habitabilidade, localizada, quiçá, na periferia do sonho, e submeter-se a todos os constrangimentos sociais que afogam de mágoas os deserdados da terra.
Aí, sim! Aí veríamos, aquiescentemente, o nosso voto justificado pelo despojamento manifestado, despojamento esse que se estenderia, naturalmente, até os portugueses voltarem a ter uma vida digna. Com essa postura de sacrifício, até com alegria nós participaríamos na acção política de um Governo em verdadeiro estado de graça. Mas não é isso logicamente que vai acontecer, porque ao vestirmos o hábito franciscano e ao partirmos para a Terra Santa, numa espécie de mendicidade por amor ao próximo, não poderemos contar, evidentemente, com dividendos materiais, mas sim apenas com um piedoso e singelo conforto espiritual ( q.b.), que se traduzirá numas quantas aleluias e, eventualmente, no perdão redentor do infalível Transcendente pelos pecados entretanto cometidos. Nesta conformidade, claramente se infere que estes políticos, que hipocritamente frequentam a igreja e que até fazem o sinal da cruz ( embora enviesadamente , como se fossem meretrizes despudoradas ) tudo farão menos ficar para a História como os abnegados redentores do povo. Ao contrário, estes caninos agentes do Grande Capital, que com tanta facilidade tributam e cortam os rendimentos do trabalho, naturalmente nos dirão, sem escrúpulos nenhuns, que têm "muita pena" mas nunca deixarão de ter vergonha , preferindo, em vez do despojamento e da expiação, viver plenamente com os seus privilégios, a explorar os outros e sem estados de alma contraditórios , porque o Mundo é mesmo assim.
Esta gente não tem coração nem perdão. São agentes conscientes do mais radical darwinismo social , cujo objectivo final é e será sempre a opressão e a escravização dos povos.

Lembram-se quando eles andavam tão caladinhos ?...

terça-feira, novembro 08, 2011

Espectros

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"Podemos não dar por isso , mas a queda vai sendo aparada ao longo do percurso que ainda nos resta. Acabamos por ficar anestesiados contra a iniquidade e o inferno por um mecanismo que torna a coisa quase irreconhecível. Tiram-nos a autonomia e ligam o piloto automático. Depois...bom, depois já não há depois."

quarta-feira, novembro 02, 2011

A Grécia

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Quando os líderes políticos gregos se aperceberam que estavam encurralados entre a vontade do povo , manifestada exuberantemente nas ruas ( e também, ao que parece, nos quartéis, com a possibilidade muito forte de um pronunciamento militar ) , e o garrote financeiro imposto pelo FMI ,o Banco Central Europeu e a ( des ) União Europeia, decidiram convocar um referendo. Esta decisão , que está a colocar a Europa , os Mercados , o Mundo e, sobretudo , o grande Capital num terrível sobressalto, visa acima de tudo, face ao caos instalado no País, que se tornou praticamente ingovernável, legitimar a acção política, deixando justamente nas mãos do povo o destino a dar à Nação.
Mas este acontecimento , somado às grandes manifestações de indignação que por todo o mundo ( Ocidental ) grassam contra um Liberalismo cruel que gera desigualdades gritantes na distribuição da riqueza e , por consequência, a miséria de milhões de seres humanos, está , mais uma vez , a ser vigiado e controlado pelos senhores do Capital. Os donos do Mundo , com os seus incontáveis gabinetes de peritos, mercenários, polícias e capatazes , formados e arregimentados na orla da pobreza para resolver todos os problemas que atentem contra os seus interesses, já possuem com certeza a solução para aplacar a ira dos escravos.
Dizia Sólon, na pré-história da Polis, que a política não era mais do que a luta entre o rico e o pobre, sendo que este , como ser deserdado que é, facilmente seria vencido e manietado por não possuir as mesmas armas que as do suserano. E quando uma vez isso aconteceu ( revolução Bolchevique de 1917 com a implantação do regime Soviético ) , o resultado ficou à vista de toda a gente: a natureza humana não deixou . Como a História testemunha, aos Czares da Rússia e aos Mandarins da China sucedeu, após grande sucesso revolucionário, uma nova elite, dita do proletariado , que veio mais uma vez confirmar a natureza insana do homem e submeter novamente os povos ao seu iníquo jugo.


"Na era da Semiótica , em que as imagens são tudo, è prudente dar-se atenção aos sinais."