sexta-feira, setembro 26, 2014

Transformers e poderes fáticos

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O grande momento do debate entre Seguro e Costa ( uma verdadeira tumescência Zen ) aconteceu quando Seguro, interpelado pelo moderador para dizer quem dos apoiantes de Costa pertencia ao célebre partido invisível das negociatas, transforma-se, com assombro, num delator. Poder-se-ia dizer que a " caixa " até foi objecto de apostas, se João Adelino Faria conseguiria ou não conduzir o debate até àquele desfecho fatal, mas não foi necessária tanta subtileza, porque Seguro, visivelmente descontrolado,  já estava com a resposta engatilhada e prestes a salta-lhe pela boca fora. De repente,  o Secretário Geral do Partido Socialista transforma-se aos olhos de toda a gente em Tomás de Torquemada.

quarta-feira, setembro 24, 2014

Pedro Salsicha

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A ironia de tudo isto é que depois de ter custado ao Erário Público uma nota preta, uma vez que fez o básico, o secundário e ainda uma investida em matemáticas na escola pública, acabando mais tarde a graduação em Economia aos 37 anos de idade numa universidade privada (...), o resultado alcançado é verdadeiramente confrangedor: uma salsicha sem qualidade e arrogante, capaz de fazer diatribes e invectivar sobre as qualidades dele próprio, pensando estar a faze-lo sobre os outros e o eduquês que pretende estripar . Naturalmente que a maioria concluiu e continua a concluir os seus estudos no tempo certo e segundo os parâmetros normais.

quinta-feira, setembro 18, 2014

O fogo dos deuses

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O ser humano, tal como a natureza, tem horror ao vazio. Mas neste caso horror ao vazio do espírito, à falta de sentido e de propósito de tudo isto. Ele pode até concordar com o postulado que diz sermos demasiado inteligentes para acreditar num Deus. Porque o homem tem sabido ( e assim reza a história ) com o seu conhecimento, traduzido no progresso científico e na tecnologia, ultrapassar parte da sua epifenoménica condição. Ainda é muito cedo para saber se um dia , daqui por alguns eons, ele conseguirá participar no fogo dos deuses. Mas o caminho parece estar a tornar-se irreversível. O que eu sei, por moto próprio, é que os prognósticos mais arrojados que se possam fazer sobre o futuro da espécie humana poderão ficar muito aquém da realidade. Mas será que esse desiderato, de confirmar-se o Olimpo, bastará para aplacar a inquietude e a angústia que se abate nas entranhas da alma humana? Será que depois de atingida essa meta impossível e inaugural, que é a imortalidade (who knows?), conquistada pelo labor científico e plasmada experimentalmente através de um modus-operandi, uma fórmula que o libertará finalmente do estigma da efemeridade, o homem voltará novamente a ficar inquieto e a padecer da incomodidade de constatar que tudo isto continua a não ter sentido nenhum nem propósito ? Já Santo Agostinho dizia que o homem só descansará quando um dia  se encontrar com Ele - ou chegar a ser como Ele, um Deus. 

quarta-feira, setembro 17, 2014

Ubiquidade

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Parece que D. Cristiano já deu o aval à contratação do novo Seleccionador Nacional. Por coincidência, segundo parece, alguém que colhe a unanimidade do Capitão da Selecção e do Presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Quem diria ?
Para quem já percebeu ( e Paulo Bento já viu isso tarde de mais, foi Cristiano quem o pôs fora ), quem manda verdadeiramente na Selecção não é o seleccionador , mas uma nebulosa de interesses. Por essa razão, não podemos esperar, com certeza, que grandes alterações à estrutura do futebol e nas performances da equipa de todos nós aconteça enquanto aquela força de bloqueio não for apeada, exceptuando, claro está, a raríssima circunstância de poder vir a aparecer a curto prazo meia dúzia de génios.
A selecção, como que está manietada por uma clique, por um sistema, um centro de interesses que não lhe permite ser objecto de uma verdadeira revolução. Para catapultá-la novamente para os lugares cimeiros da elite do futebol, pelo menos de uma forma sustentada, seria preciso um acto de coragem para correr com todos os tachos que gravitam em torno dela e arriscar fazer de raiz , como a Alemanha já o fez e nós ao tempo de Queiroz, um trabalho sério e rigoroso, a todos os níveis , principalmente a partir das gerações mais novas, e exigindo, para além de muitas outras alterações e condições, uma política que limite drasticamente a contratação de jogadores estrangeiros , seja qual for a sua proveniência, para dar massa crítica aos nossos jovens talentos ( que são muitos e bons ).
Toda a gente, no plano das generalidades, já fez o diagnóstico há muito tempo e apontou a cura, mas o polvo é muito astuto, tentacular ( passe o pleonasmo ) e muito forte.
Em face desta indisfarçável impossibilidade, apenas podemos crer que o treinador escolhido para Seleccionador Nacional só pode ser outro homem do sistema, um lacaio que jurará não ofender a teia de interesses instalada ao redor da Selecção, a começar por aqueles que fixaram convenientemente residência nas diversas estruturas da Federação,  na liga e nas associações, passando pela rendição do nosso entusiasmo à política dos interesses profissionais e de imagem do senhor capitão da Selecção, pelos agentes dos jogadores envolvidos , nomeadamente o super-agente Jorge Mendes, sponsors, etc,etc,etc.

sábado, setembro 13, 2014

Colapso

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Naturalmente que eu não quereria pagar para ver, muito embora o desejasse, para saber como era . 
Colapso total da matéria, do espaço e do tempo, ou não? Será como Stephen Hawking prevê, que a célebre partícula de Deus, que confere forma e volume a tudo o que existe , enfim, que monta o cenário da realidade, agitada a um nível tal de energia poderá tornar-se tão instável que faça colapsar tudo o que existe, como um Big-Bang ao contrário?
Em questões desta natureza, quando vemos iminentes cientistas que são extremamente cautelosos nos prognósticos que fazem sobre descobertas e respectivas consequências a alertarem-nos, especialmente aos seus pares, para a possibilidade da investigação que está ser feita sobre o bosão de Higgs redundar numa catástrofe imprevísivel, sentenciando quase a sua proibição, é porque alguma coisa bem perigosa está a escapar ao crivo apertado da comunidade científica. Ou não? 
Será que devemos confiar na suspeita de Hawking, já que o seu superlativo estatuto de cientista deve merecer a maior das credibilidades? Ou devemos, pelo contrário, confiar no colégio alargadíssimo de sábios que continua a apostar no desvendamento da matéria e, por consequência, a prosseguir com a investigação do Bosão de Higgs para perceber a natureza e a estrutura do real ? Que venha o mais pintado e escolha...

quinta-feira, setembro 11, 2014

Tótó Zé, Kalimero: " Foi aquele menino, senhora professora ! "

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Se dúvidas existissem sobre a "viragem" à direita que a actual direcção do Partido Socialista fez nestes últimos três anos, não apenas pela leveza ideológica constatada , muito embora alguns arremedos florentinos ensaiados no parlamento para calar a crítica interna,  e pela oposição fruste que foi fazendo durante todo este tempo ao governo,  bastava obviamente ver os apoios que ela recebeu desde a primeira hora e os que continua  a receber, nomeadamente hoje quando tem de  disputar  a sua legitimidade nas primárias contra Costa, que a desafiou, enfim, a legitimidade de ir a votos nas legislativas e de Seguro tornar-se , eventualmente, Primeiro Ministro.
Por que razão o velho e histórico Partido Socialista aparece nestas primárias ao lado de Costa? E por que razão a ala mais à direita do Partido Socialista, com o seu núcleo duro muito próximo do Partido Social democrata, apoia Seguro? Será apenas porque sim, ou será porque ideologicamente existem diferenças?
Podemos alegar, naturalmente, que os programas e propostas dos dois candidatos, fundamentalmente, não divergem muito. Podemos até crer que um Costa de Hollande poderá ser um fenómeno perfeitamente possível. Mas não querendo parecer ingénuo, entendo, no entanto,  que a razão atinente para Costa ser diferente, para além das provas já dadas no exercício de diversos cargos na gestão da coisa Pública, na capacidade de liderança e na aptidão para mobilizar vontades, se encontra, na verdade, na sua matriz ideológica. Creio ser Costa um prudente socialista da ala esquerda do partido.
Quanto a Seguro, bom, quanto a Seguro, depois destes dois debates a que assisti ,  acabei por concluir que este senhor é possuidor de uma falta de carácter incrível e padece de um esdrúxulo e patológico infantilismo. Na realidade, ele foi muito mais acutilante com o camarada de partido, uma pessoa que fez com ele o mesmo trajecto político, iniciado na  juventude socialista,  do que alguma vez o foi com o líder do governo ou com a maioria de direita que o invectiva e o desrespeita no Parlamento. A breve trecho, no primeiro embate, ainda julguei que Costa, depois daquele obsceno massacre sobre a sua condição de traidor à Pátria, acabasse mesmo por dar um murro na mesa e fizesse Seguro engolir as palavras denunciando-o pelo tratamento igual que ele infligiu a Sócrates quando este era Primeiro Ministro. Mas, não, Costa tinha delineado uma estratégia de contenção,  empenhado  sobretudo em manter uma postura muito british, para mostrar à opinião pública que um político e, sobretudo, um governante, deve ter uma serena mas muito activa atitude nos momentos mais difíceis da vida de uma Nação . E não saiu daquele registo, para além de ter mostrado à saciedade que foi mal preparado para o debate e a engasgar-se a pretexto de algumas posições contraditórias que tomou no passado. Com esta atitude, Costa cedeu em toda a linha a pro-actividade do debate ao Kalimero Seguro que, a breve trecho, chegou mesmo a revelar algum triunfalismo no rosto. No debate de ontem, no entanto, António Costa já foi mais assertivo e preparado, com as baterias todas apontadas ao "coração" do adversário, anulando-o com competência no esforço que este ia fazendo para o descredibilizar, levando-o mesmo, em alguns momentos da contenda, a um indisfarçável estado de nervosismo. 
Seguro é, por todas as razões , o seguro da direita, se vier a ganhar as primárias e a concorrer às legislativas pelo P.S. Não é por acaso que a maioria dos comentadores avençados de direita, que fizeram o balanço dos dois debates nos canais televisivos, continuam a dar a vitória a Seguro, vaticinando-lhe um bom resultado nas primárias, ao mesmo tempo que desqualificam impiedosamente as prestações de Costa . Nós percebemos.

domingo, setembro 07, 2014

O umbigo

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Tenho a mania de despachar as pessoas quando não me interessa a  sua conversa. Não tenho paciência, não tenho pachorra, não tenho disponibilidade mental para perder tempo com efabulações de circunstância. Não sou ouvinte, sou falante e interesseiro. O meu ego tem mais que fazer do que ficar para ali num estado entediante, permanentemente a bocejar, à espera que o outro se cale ou dê de frosques.

sábado, setembro 06, 2014

Pregnância

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Diz-se muitas vezes que é necessário combater a distância física que as novas tecnologias parecem impor continuando a cultivar o tradicional convívio humanizado, presencial, " face to face " , cheio de afectos. É preciso saber de vez em quando parar para perceber que o outro não é apenas um pregnância electrónica no monitor, mas sim alguém, como eu, prenhe de sensações e sentimentos, feito de carne e de sangue.  Mas como tudo seria mais simples se a natureza da realidade, acompanhando a preocupação do regulador para voltar a repor  ordem nela, não nos obrigasse, pelo contrário, a reconhecer que, afinal, a captura que fazemos do real, muito embora pareça prosaica, porque histórica  e   empiricamente comprovada, é , em última análise, também ela uma tela onde se inscreve o bailado electrónico da virtualidade. 

O fim

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Já mesmo no fim, vamos todos oscilar dramaticamente entre o pavor, a resignação e a esperança, pelo menos a esperança de que tudo acabe de vez e rapidamente, que acabe com o sofrimento lancinante e a morte nos traga finalmente a abençoada libertação.  

quinta-feira, setembro 04, 2014

As ruínas

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Antigo cais fluvial no Bico do mexilhoeiro  
Parecem querer reclamar a nossa atenção, talvez para nos dizerem que já foram vida. Afinal, estão ali há tanto tempo abandonadas que nós nem damos por elas. Passamos habitualmente pelos vestígios do passado ignorando o seu silêncio ensurdecedor, o silêncio das vozes que os habitaram e que fizeram deles espaços imprescindíveis, atractivos, de grande dinamismo social, de chegadas e partidas de gente com pressa na vida, de gente com pressa de partir... São ruínas de um outro mundo que desapareceu, mas cujos fantasmas continuam dignamente a permanecer de pé e a lutar desesperadamente contra o esquecimento, como que a querer reivindicar uma presença efectiva na História.

terça-feira, setembro 02, 2014

Putin-bomb

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Uma questão separatista, guerra de gasodutos ou simplesmente geostratégia? 
Depois de ser imperial, enquanto União Soviética, país com um vasto território, aberto e sem constrangimentos aparentemente nenhuns, a não ser a ambição expansionista dos seus dirigentes, que era vertida nos desfiles heróicos na Praça Vermelha, a Rússia vê-se hoje a braços com alguns problemas operacionais, tanto de ordem militar ( mas em parte já resolvido com a anexação da Crimeia ), como de ordem comercial ( com o gasoduto principal que fornece gás à Europa a passar pela Ucrânia ) que precisam urgentemente de ser resolvidos. Como país tolhido na  sua aspiração de manter o mesmo estatuto de grande potência mundial, e com uma diáspora muito activa ( senão muito orientadamente activa ) a viver nos países vizinhos e a reivindicar a integração dos territórios onde está instalada na grande mãe Rússia, os novos czares  parecem não ter dúvidas em aproveitar todos focos de instabilidade nesses países, outrora parte da União Soviética, mas hoje estados independentes , para pressionar política e militarmente a situação com o objectivo de produzir alterações no xadrês geoestratégico regional. 

Sempre que as grandes potências nucleares tiveram à frente dos seus destinos cowboys( Reagan e Bush filho ) e fanfarrões das estepes ( Khrushchov e Putin ), o inverno nuclear foi e continuará a ser sempre uma possibilidade. 
Os jogos de poder, todos nós o sabemos, são o que são, e o medo (a diplomacia)  continua aí a ter um papel importante a desempenhar. O teatro , muito embora o shakespeariano aparato cénico , continua a ser muito linear, vamos ver quem desta vez marcará pontos, apesar das eufemísticas proclamações  de vitória de ambos os lados.  

segunda-feira, setembro 01, 2014

Os miúdos da bola

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Para quem brincou com a bola nos campos improvisados da vida, o futebol era acima de tudo uma arte e magia. Uma arte que os "Garrinchas" deste mundo ajudaram a projectar e que ainda hoje continua a maravilhar e a modelar gerações. Também no Barreiro, nos idos "entas" do século passado, no Barreiro das chaminés negras e esclavagistas da repressão, nasciam para a arte do futebol centenas de habilidosos. Para além dos Pirezas, dos Faias, dos Yuris, dos Chalanas e de tantos outros que ingressaram oficialmente no  mundo do futebol, uma plêiade de brincas-na-areia, que só a fortuna da sorte não os guindou para o universo das estrelas, deliciava-se na pura fruição do movimento, nos gestos criativamente inventados, na intuição técnica dos enganos e na beleza estonteante dos dribles. Que exímios artistas eram estes putos da bola, sempre tão concentrados no prazer de ser, mas a derramar poesia sobre relvados inventados perante o olhar fascinado de plateias improvisadas. Hoje, na poeira entorpecente da memória, ainda os consigo ver a jogar, a jogar sem nunca esmorecer para os lados da eternidade.

Um flash no tempo

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Foi um tempo outro que ficou irremediavelmente para trás, cedo desaparecido na célere voragem do tempo. Foram pessoas e vidas, e vidas e histórias, sem história, ruínas que o tempo fez o favor de alijar para sempre do presente, e até da memória. Ficou apenas um nada, um inconclusivo e misterioso nada, vivificado por instantes num suporte ontológico paradoxal .