segunda-feira, junho 22, 2015

As intermitências da memória, ou uma declaração de amor?

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Por vezes fico surpreendido ou exasperado, até, quando alguém me fala de coisas ou de factos de que eu não tenho aparentemente notícia ou a mais pequena lembrança. São as intermitências da memória, recordações de pessoas, lugares e atmosferas que deixámos para trás no tempo, esquecidas pelo homem, e hoje já transformadas em ruínas cobertas pelo pó.
- Um conjunto de circunstâncias necessariamente traumatizantes tinham-na levado aquela dramática situação. Vivia os dias em permanente estado de pânico, com os nervos praticamente desfeitos e já sem forças para resistir mais. À noite, antes de se deitar e julgando já não acordar na manhã seguinte, despedia-se convulsivamente dos filhos como se aquela fosse a última vez. Quando, finalmente, chegava à cama para se deitar, a tremer de medo e a soluçar, já completamente perdida da sorte e da vida, dizia para o companheiro que ia acabar ali. Mas ele, muito carinhoso e perseverante, respondia-lhe sempre do mesmo modo:" Agarra-te a mim, agarra-te a mim com muita força que eu não deixo que te aconteça nada. O mundo não vai acabar, acredita, é apenas mais um dia que passou. Dorme meu amor, dorme tranquila que eu estarei sempre aqui a velar por ti." 

Sondagens

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A última sondagem efectuada em Portugal na semana passada sobre as intenções de voto dos portugueses nas eleições legislativas, coloca novamente a coligação de direita no poder. Na verdade, para um povo que foi vítima nestes últimos quatro anos das políticas criminosas deste governo, voltar a dar-lhe o assentimento parece-me de todo mirabolante senão mesmo um comportamento do foro psiquiátrico.
Bem dizia alguém, de forma assaz contundente, que cada povo tinha os políticos e as políticas que merece. E prosseguia, dizendo que em Portugal nunca teria havido feudalismo a sério, nem absolutismo a sério, nem liberalismo a sério, nem república a sério, nem fascismo a sério, nem revolução a sério, nem capitalismo a sério, nem há democracia a sério. A sério, a sério, a sério ( ó, pá! ), só as nossas atávicas e muito amigas ignorância, descontração e irresponsabilidade, muito bem acompanhadas com "minis" servidas ao balcão de qualquer tasca deste País à beira-mar plantado. Mas quando um dia descobrirmos ( em maioria ) que fomos labregamente enganados, já será tarde de mais, pois nessa altura já nos foi imposto o bico calado e impostas férias vitalícias a alguns de nós no estabelecimento hoteleira de Caxias - o ditado diz que a vingança serve-se fria, e eles estão desejosos que isso aconteça.
Agora, falando mesmo a sério. Mas alguém de bom senso acredita em sondagens encomendadas e perfeitamente orientadas? Creio que não. Até por que esta sondagem apresenta ela própria algumas contradições na sua formulação e nas respostas que foram dadas pelos entrevistados, não batendo a bota com a perdigota. Todavia é preciso ter muito atenção, porque foi montada uma monumental campanha de propaganda em todos os órgãos de comunicação social para apoiar esta direita, com os mídia ( todos ) e a maior parte dos jornalistas, avençados e companhia a anatematizar e a crucificar a esquerda, ora por isto ora por aquilo, e a glorificar os prodígios político e económicos, quase como a gesta dos descobrimentos, realizados por este governo. Eu até admito, naturalmente, que eles até se possam rir e gozar da facilidade como este povo medroso e ignorante foi e continua a ser manipulado por eles, ou seja, pelos seus próprios carrascos, mas também acredito, em última análise, que o povo português não é assim tão estúpido e, no dia das eleições, vai com certeza dar a resposta mais adequada a tanto vil e cruel descaramento.

sexta-feira, junho 12, 2015

O defunto de Évora, ou Lázaro?

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Dizia alguém com bastante humor, para ironizar a actualidade política do País, que nunca se conformava com aqueles campeonatos de infelicidade, que consistiam em passar horas à volta de um caixão a cambalear para dar a ideia de quem gostava mais  do defunto. Simultaneamente, no outro lado da barricada, no jardim das áspides, as hienas , os chacais e os abutres já se perfilam no horizonte para abocanhar os despojos.
Mas olhem que ele ainda não está morto!...

Altares de geração

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Muito embora não queiram passar a ideia de que estão fossilizadas, no entanto todas as pessoas e respectivas gerações guardam na memória e fazem dos anos dourados da sua juventude um altar cheio de bugigangas anacrónicas. Parece que todos aqueles que viveram na mesma época se refugiam numa projecção nostálgica de um passado de felicidade perfeita, um momento de bem-aventurança, mas não sabem ou então não querem crer que, afinal, talvez tudo não tenha passado de ficção nas suas cabeças, sucumbindo, assim, à doce ilusão que elas próprias criaram.
Na realidade, as gerações sucedem-se na roda do tempo, e, cada uma no seu período próprio, acredita estar a viver um momento único e definitivo na história da humanidade, um período mágico e perfeito de grande exaltação no mundo que continuará indefinidamente a reproduzir-se pelos tempos fora. Naturalmente que esta gesta, esta narrativa glorificadora de um tempo único e superlativo,  não passará, obviamente, segundo rezam os ditames da psicologia, da forma encontrada por cada geração para se lhes atribuir importância, uma importância que ela julga merecer, uma espécie de sentimento de superioridade existencial e intelectual, quase derivando de uma emanação divina, relativamente a todas as outras gerações, tanto as que a precederam como as que lhe sucederão, e que lhe permitiria ocupar o lugar cimeiro no ranking de todas as gerações e épocas. Pois assim seja, para equilíbrio de cada um.

segunda-feira, junho 08, 2015

Bovinices

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Não, de modo nenhum nos devemos bovinamente resignar à espera que o abismo nos engula. Porque não é lícito pensar que gostamos de sofrer, mesmo que mergulhemos novamente de forma estúpida e acrítica num rio infestado de crocodilos. Mas parece que sempre fomos assim, temos a atávica mania de nos comportarmos como um rebanho. O medo ou a dúvida impelem-nos a ficar sempre todos juntos e a seguir incondicionalmente o que vai à frente. Está inscrito no nosso manual de sobrevivência.
Vem isto a propósito da ponderação que necessariamente teremos de fazer sobre o sentido de voto nas próximas eleições legislativas, uma vez que vão ser elas o grande definidor do quadro governativo e de poder em Portugal para os próximos tempos, com repercussões importantes nas nossas vidas. Assim sendo, e já que o regime democrático nos oferece a possibilidade de podermos, mesmo que ligeiramente, alterar as políticas que mais directamente nos dizem respeito, nomeadamente no campo da saúde, da educação, da fiscalidade, do emprego e da segurança social, era bom que os eleitores tivessem em conta que o pleito eleitoral se vai disputar, como sempre e unicamente, entre duas formações: o Partido Socialista e a coligação de direita que actualmente nos governa. Não restando dúvidas ( quero crer ) sobre tão evidente asserção, parece-me então justo reconhecer que a opção mais óbvia, pelo menos para quem nestes últimos 4 anos esteve a viver em permanente sobressalto ( e parece ter sido a maioria dos portugueses, por uma razão ou por outra  ), será  a de votar no Partido Socialista. Concedo, no entanto, para quem padeça ainda da inefável dúvida sobre o seu sentido de voto e não seja patologicamente masoquista ou revolucionário consequente, que  reflicta bem sobre a decisão que vai tomar , porque o registo dos resultados eleitorais em Portugal desde o 25 de Abril sempre indicaram esta verdade insofismável : ou ganha o Partido Socialista, ou  ganha a direita. Seguindo a linha deste raciocínio, e para tranquilidade dos espíritos mais assustados ou confusos, seria de bom tom e também conveniente que os portugueses não voltassem  a entregar nas urnas, por interpostos partidos, dispersando assim os votos à esquerda, o poder a  esta direita, cujas consequências nefastas já todos nós infelizmente conhecemos.  
Os portugueses na sua maioria, infelizmente ou não, dependendo da grelha de valores que se queira aplicar, preferem votar nos partidos do chamado Centrão. Se é por ignorância, talvez porque somos ainda um País um tudo nada atrasado, como tão tristemente se constata, se é por bloqueios culturais, provocados por meio século de ditadura, cujos ecos ainda se fazem sentir, ou se é por fundamentalismo tribalista ( eu sou do Benfica, porque sim, é a minha gente ),  o que é certo é que a realidade eleitoral, com mais ou menos ligeiras oscilações,  não se tem alterado desde então. Daí pensar que é chover no molhado continuar a apostar nas outras formações de esquerda, nomeadamente aquelas cuja expressão eleitoral é diminuta ou pouco expressiva. Exceptuo aqui unicamente o Partido Comunista, uma vez que à esquerda , para lá do Partido Socialista, é a única força política que consegue ainda concitar um número razoável de votos, muito embora pense, tal como muita gente hoje, que a sua tradução real e influência na vida política do País é verdadeiramente pouco significativa. Relativamente aos outros agrupamentos da chamada esquerda revolucionária, aquilo que apenas posso dizer, pela prática demonstrada até hoje, é que eles lamentavelmente continuam a perseguir o sonho egocêntrico dos seus mentores e nada mais. De todo o modo, e querendo ser consistente com o discurso que tenho feito até aqui, procurava também lembrar que vivemos, desafortunadamente, num mundo globalizado e capitalista, com tudo o que isso implica no domínio económico e financeiro. Agora, imaginar que experiências político-ideológicas mais radicais poderiam eventualmente ter sucesso ( veja-se o caso do Siriza ), é no mínimo confrangedor, exactamente pelas razões mais  óbvias. Já para não falar nos custos sociais  que isso obrigaria e do isolamento internacional a que o País seria naturalmente votado. Que o digam a Rússia dos sovietes ( ou dos novos Czares )e a China do campesinato ( ou dos novos mandarins ), verdadeiros baluartes hoje do capitalismo mais selvagem. E Cuba, de Fidel, também ela hoje a transformar-se , como o notam os últimos desenvolvimentos  políticos naquele País. Ademais, a História mostra-nos cabalmente que o tempo das quimeras já acabou há muito, tendo ficado à vista de toda a gente que é a natureza humana mais profunda e individualista quem detém, na realidade, os cordelinhos e as regras do jogo. 
Quanto à profissão de fé e visão do mundo ( tal como eu tenho ) de muitos daqueles que vão votar noutros partidos, compreendo e reconheço perfeitamente, tal como o cortejo de argumentos que podem aduzir para sustentar as suas teses. Obviamente que também sei que o mundo dos interesses é transversal aos partidos do chamado arco da governação - há muita gente a viver à conta do sistema . Mas também acredito que o verdadeiro combate a ser travado hoje é no interior do próprio PS, um combate que possa levá-lo novamente a defender as causas e os princípios fundadores que estiveram na sua génese, como advogam, entre outros, Mario Soares e os jovens turcos . É por tudo isto que ainda consigo notar aquela diferença essencial entre as preocupações sociais de uns, a verborreia panfletária e inconsequente de outros e, logicamente, o eugenismo darwinista e selvático de quem nos governa. Poder-se-á alegar que votar no Partido Socialista é a escolha do mal menor, já que também nunca saberemos ou teremos poucas certezas sobre qual seria a escolha do bem melhor. Mas o mal maior parece já todos sabermos qual é, pelo menos para aqueles que viram as suas vidas completamente trucidadas ou severamente prejudicadas por esta coligação de direita.


segunda-feira, junho 01, 2015

A aceleração do quotidiano

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É uma constante nos dias de hoje o facto de o presente estar recheado de uma miríade de acontecimentos, de tudo se passar em todo o lado e a todo o instante, numa simultaneidade vertiginosa. É muito difícil, assim, conseguirmos acompanhar o noticiário do dia para nos podermos situar, já que não existe o dom da ubiquidade. Há informação a circular para cá e para lá, notícias que se cruzam a uma velocidade assombrosa, sem que disso tenhamos muitas vezes notícia, ou , pelo menos, a possibilidade de poder extrair ou seleccionar delas o que de mais importante a realidade tem para nos oferecer. E, quando julgamos atingir aquilo que depreendemos ser o âmago ou o momento da actualidade, já ele se esfumou há muito não sendo mais notícia mas sim ruína, passado. Parece que o presente está sempre a ultrapassar-nos, a passar ao lado, uma vez que a sensação é a de estarmos amarrados a um eterno ontem fixamente coagulado. Na realidade, a actualidade passou a ser muito exigente e extenuante, também.